23 de dezembro de 2005

Boas festas

Regresso, temporariamente, de Pasárgada, não para fazer as últimas compras de Natal, Lá não se oferecem prendas no Natal, não há o "stress"das prendas. Estas festas são vistas como período de, ainda, melhor confertenização, reflexão, balanço e projectos... como dizia, regresso apenas para desejar a todos, os que ainda têm a paciência de passar por cá, um optimo e feliz Natal e, para o caso de não nos voltarmos a ver, um bom Ano Novo.
Por mim, regresso, até ao fim do ano, a Pasárgada. Lá sou amigo do Rei, não tem eleições presidenciais, crises na justiça nem discussões demagógicas. Lá todos falam e os problemas são resolvidos com frontalidade, as discussões são, sempre, com honestidade e total transparência.
Mas melhor que tudo isso, é que tenho a mulher que quero, na cama que escolherei.
Até breve.

24 de novembro de 2005

Coisas da igreja

Li que o Vaticado vai proibir o sacerdócio a homossexuais.
Pergunto:
Não é pressuposto, da coisa, o celibato?
Ora, proibir aos homosexuais o exercício do sacerdócio não será permitir aos seus membros desfrutar o fruto proibido (seja ele qual for)?

5 de novembro de 2005

Às armas - II

A Ordem dos Advogados já apresentou as armas com que travará a batalha desencadeada pelo Governo.
Nesse particular, concordo com o que diz o seu bastonário
aqui.

4 de novembro de 2005

Carta Aberta ao Sr. Ministro da Justiça

Excelência:

"Indecente" é a politica que V.ª Ex.ª e o Governo, de que faz parte, definiu para a Justiça.

O Defensor Oficioso em causa própria,

Às armas

Após as mais recentes declarações do Sr. Ministro da Justiça sobre a qualidade das defesas oficiosas, foi declarada aberta a guerra aos operadores judiciários.
Será melhor alguém explicar, antes de mais, ao Sr. Ministro o que é, o porque e para que serve o instituto do patrocínio oficioso.

3 de novembro de 2005

Crise na/da Justiça - I

Pelo que me tenho apercebido das discussões, debates, entrevistas e outras coisas que tais, a tão afamada crise da Justiça, é afinal, uma crise da justiça criminal. Não uma crise da Justiça generalizada.
E, também pelo que me tenho vindo a aperceber, já se encontrou o culpado. É o Ministério Público.
Não concordo com a limitação da crise da Justiça à crise da Justiça Criminal.
Os processos cíveis não estão muito melhor que os criminais. E nestes, não é por culpa do Min. Público.
Nem nos processos criminais, acredito que a culpa da crise seja do MP, ou que seja necessário, as novas medidas que se avizinham. Até porque algumas, mais ou menos expressamente, se encontram previstas.

29 de outubro de 2005

Curioso, não?

Curiosamente, as "trapalhadas" do ministro Alberto Costa em Macau (de há 17 anos) só foram noticiadas, ontem na SIC Notícias, uma única vez.
Curiosamente, nenhuma repercussão teve nos restantes órgãos da comunicação social.
Curiosamente, não mereceu qualquer comentário da oposição.
Curiosamente, passou desapercebida.

25 de outubro de 2005

Dia Feriado

Ontem foi feriado em Pasárgada, razão pela qual não houve "post".

23 de outubro de 2005

"Eu não existo sem você"

Hoje, em Pasárgada, ouvi alguém declamar:
"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim / Que nada nesse mundo levará você de mim / Eu sei e você sabe que a distância não existe / Que todo grande amor / Só é bem grande se for triste / Por isso, meu amor / Não tenha medo de sofrer / Que todos os caminhos me encaminham pra você / Assim como o oceano / Só é belo com luar / Assim como a canção / Só tem razão se se cantar / Assim como uma nuvem / Só acontece se chover / Assim como o poeta / Só é grande se sofrer / Assim como viver / Sem ter amor não é viver / Não há você sem mim / E eu não existo sem você"

Vinícus de Moraes e António Carlos Jobim

20 de outubro de 2005

Invasão de (alguma) privacidade

Agradeço a Slovtäg a dica de como bloquear os comentários gerados automáticamente e que contêm publicidade a outro sítios da internet.
Já por duas ou três vezes reparei em comentários publicitários, gerados automáticamente, inseridos com outros.
Não consigo deixar me sentir violado na minha privacidade com este tipo de publicidade. Um blog não deixa de ser público. Era e é essa a minha ideia, criar um sítio público, sem restrições e aberto a todas as opiniões, nunca a publicidade!
Daí que, e por forma a evitar esse tipo de abusos, a partir de agora todos os comentários terão de ser comprovados pela inserção de um código de segurança, que consiste em reproduzir, no lugar próprio, as letras indicadas. Nada de muito
A todos as minhas mais sinceras desculpas pelo inconveniente causado.
A gerência.

18 de outubro de 2005

Agradecimento

Acho que só hoje finalmente percebi que o melhor/maior agradecimento (não digo gratidão, pois parece-me forte de mais) que se pode receber por um trabalho (entendido como actividade profissional) realizado e um problema resolvido vai muito para além da compensação monetária devida, e dos grandes problemas/questões. Está nos gestos mais simples, num agadecimento sentido, da pessoa mais simples...
Aconteceu-me hoje. E foram talvez os melhores honorários que algumas vez recebi.

14 de outubro de 2005

12 de outubro de 2005

Irene

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!?
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.


Manoel Bandeira

10 de outubro de 2005

Será?

Depois das eleições de ontem pergunto-me se a tendência da democracia será a autoflagelação... Outra justificação não encontro para a eleição de Fátima Felgueiras ou de Isaltino de Morais para as respectivas câmaras.

As Justiças

O Povo, na sua sabedoria, já sentenciou os acusados.
Absolveu-os.
Falta apenas a Justiça dizer de si.
Aguardemos, pois...

29 de setembro de 2005

Obras primas da literatura

GOG, sedento de conhecer as obras primas da literatura, pediu a um afamado Professor da Universidade de W. para lhe organizar uma lista de obras.
Após ter lido-as quase todas, é esta a sua opinião:
"As primeiras afiguraram-se- me más e pareceu-me incrível que tais humbugs fossem realmente produtos de primeira qualidade do espírito humano.
Hostes de homens, chamdos heróis, que se estripavam durante dez anos a fio, sob a muralha de uma pequena cidade, por culpa de uma velha seduzida; a viagem de um vivo à fossa dos mortos, com o fim de falar mal dos mortos e dos vivos; um doido héctio e um doido gordo que vão mundo fora em busca de sovas; um guerreiro que perde o juízo por uma mulher e se diverte a arrancar azinheiros pelas selvas; um pulha cujo pai foi assassinado e que, para o vingar, faz morrer uma rapariga que o ama e outras personagens diversas; um diabo coxo que levanta os telhados de todas as casas para exibir as suas misérias; as aventuras de um homem de estatura média que faz de gigante entre os pigmeus e de anão entre os gigantes, sempre de modo inoportuno e ridículo; a odisseia de um idiota que, através de ridículas desventuras, sustenta que deste mundo é o melhor dos mundos possíveis; as peripécias de um professor demoníaco servido por um demónio profissional; a aborrecida história de uma adúltera provinciana que se enfastia e, por fim, se envenena; as surtidas loquazes e incompreensíveis de um profeta acompanhado de uma águia e de uma serpente; um rapaz pobre e febril que assassina uma velha e que depois - imbecil - nem seques sabe aproveitar uma alibi e acaba por cais nas mãos da polícia.
Em suma, obras de conteúdo antiquado, insensato, estúpido e extravagante."


Giovanni Papini

28 de setembro de 2005

Hoje a terra voltou a tremer por estes lados...

27 de setembro de 2005

Processar inocentes

Uma visão alternativa do sistema Penal:
"O nosso sistema é absurdo e complicado. A herança do direito romano oprimi-nos. O direito romano, com todas as suas precauções e casuísticas, foi obra de uns labregos avaros que viam o castigo dos delitos sob o aspecto de uma repressão. Não se pode castigar o delito que foi cometido e é irremediável, mas apenas sequestrar o criminoso para que não cometa outros. Quando leio nas sentenças que um indivíduo é condenado a três anos, oito meses e vinte e sete dias, cheira-me a especulação. Parece que os juízes querem fazer o culpado pagar o acto cometido, segundo uma tarifa de preços que chega ao cêntimo. (...) Se nos basearmos na Psicologia, todo o culpado deve ser absolvido; se nos preocuparmos com a defesa da sociedade, todo o culpado deve ser eliminado para sempre. Essas minuciosas graduações de penas, são ilógicas e arcaicas, e os processos são, a meu ver, inúteis perdas de tempo.
O importante é eliminar os delinquentes da circulação, sem subtilezas supérfulas, nem despesas onerosas. Eu dividiria os delitos em três categorias. E, para cada categoria, fixaria uma pena única. Os maiores (...) deveriam ser castigados com a morte imediata. Os médios (...) com a deportação perpétua. Os menores (...) com a confiscação da propriedade ou multa grande. Desta forma ficariam abolidos os tribunais e os juízes (...) Os processos são escolas de delinquência e as cadeias sementeiras de criminalidade. (...)
Contudo, os processos não seriam suprimidos de todo. Deveriam ser movidos contra os chamados inocentes. Processar delinquentes é uma extravagância dispendiosas, mas processar inocentes é o dever supremo de um Estado cônscio dos seus deveres. Quando se cometeu um crime, toda a ciência dos juízes, a eloquência dos advogados e a severidade dos esbirros não podem conseguir que o dano e a ofensa deixem de existir e sejam cancelados. Mas poder-se-ia, em compensação, impedir ao menos metade dos delitos que seriam cometidos se os pretensos «incensuráveis», os chamados «honrados» fossem vigiados e submetidos a juízo."
In "GOG", Giovanni Papini.

Sobre a greve dos Magistrados

Concordo com o que disse o Conselheiro Fernando Pinto Monteiro ao Jornal "Público", que "(...) os Tribunais são órgãos de soberania e os órgãos de soberania não fazem greve. Não concordo que os juízes, pela sua especial condição, se ponham ao nível de qualquer funcionário público (...)".
Permito-me acrescentar, os juízes não são, nem se podem considerar, funcionários públicos. As suas atribuíções vão muito além do desenvolvimento de uma qualquer função pública.

26 de setembro de 2005

Ainda a nova acção executiva

Deixo uma pergunta: Terá sido mesmo imprescindível a criação dos solicitadores de execução? Não poderiam os advogados ter, também, as suas atribuições?

Estado apoia e incentiva o não pagamento das dívidas...

Não, não se trata de uma manchete de algum jornal sensacionalista. Mas temo que algum dia sê-lo-á dos jornais nacionais.
Pergunto-me, não estará o Estado a incentivar e a promover o não pagamento, pelos devedores, do que devem?
É que acabei de ouvir as novas propostas do Ministério da Justiça para obviar às demoras na justiça. São elas, nomeadamente, a desistência dos processos de cobrança por custas judiciais; a isenção de custas judiciais a quem desista das acções de cobrança de dívidas e possibilidade de devolução de IVA...
A acção executiva é um caos absoluto...
Por uma lado, dar entrada com uma execução em tribunal é uma aventura desesperante. Primeiro é preciso fazer a inscrição na página do Habilus. Depois, é preciso preencher 7 folhas de impressos imperceptíveis, com mil e uma informações (nem a polícia, quando abre um inquérito, precisa de tanta informação), depois é preciso salvar o que se esteve a preencher na página. Por é preciso esperara que o sítio permita dar entrada com a execução. Em suma, o que antes se fazia em 15 minutos, leva hoje, 3 horas... Depois é preciso esperar que os funcionários judiciais percebam o suficiente para conseguirem abrir o que estivemos a fazer e dêm andamento ao processo.
Por outro, as custas da acção executiva, juntamente com os honorários do solicitador de execução, tornam práticamente impossível executar dívidas de valor inferior a 500,00 € (e mesmo assim convém ter a certeza de alguns bens do devedor). Por e simplesmente, não compensa. Em vez de se ficar a "arder" com 500,00 €, fica-se com um rombo no orçamento de 1.000,00 €uros...
Tenho algumas dúvidas quanto ao sucesso da nova acção executiva e o seu contributo para a celeridade processual.

24 de setembro de 2005

Ainda sobre o TC e as escutas telefónicas

A discussão continua aqui.

Afinal não...

Quando pensava que o país não podia descer mais, eis senão qando, vejo na imprensa de hoje que: "Pedro Santana Lopes, a partir de Outubro, vai passar a receber 3 178 euros de pensão, seiscentos e tal contitos por mês."
Quer dizer, o homem trabalha 4 meses, só faz asneiras e ainda por cima recebe um prémio de consolo pelo que fez... Alguém acredita neste país??

"Se isto é a democracia, tenho vergonha de ser democrata!"

22 de setembro de 2005

...

Ainda que admitindo justificações (que as haverá, há sempre justificação, afinal a culpa morreu solteira e abandonada) para os casos de Fátima Felgueiras e companhia limitada (felizmente há limite), ninguém me tira a ideia de que o nosso país bateu no fundo...
Chega!!
É desta que me vou mesmo embora pra Pasárgada e não volto. Lá sou amigo do Rei!

Leitura aconselhada

Um execelente "post" a não perder. Aqui:

Adenda ao "post" anterior

O acórdão do "post" anterior foi-me indicado por um blog amigo.
Se quiserem acompanhem a discussão que por lá anda.
Fica o sítio: http://solvstag.blogspot.com/2005/09/uma-deciso-discutvel.html

21 de setembro de 2005

Escutas telefónicas

Deixo apenas uma decisão recente do Tribunal Constitucional que certamente dará lugar a interessante discussão:
"Não julgar inconstitucional a norma do ar­tigo 188.º, n.ºs 1, 3 e 4, do Código de Processo Penal, interpretado no sentido de que são válidas as provas obtidas por escutas telefónicas cuja transcrição foi, em parte, deter­minada pelo juiz de instrução, não com base em prévia audição pessoal das mesmas, mas por leitura de tex­tos contendo a sua reprodução, que lhe foram espontaneamente apresentados pela Po­lícia Judiciária, acompanhados das fitas gravadas ou elementos análogos".
Pode ser encontrado em, na sua versão integral aqui:

20 de setembro de 2005

Portugal dos pequeninos.

Não me considero excepcionalmente culto. Nem, de todo, moralista.
Mas sempre fui um "fundamentalista" no que respeita ao futebol. Não gosto de ver, jogar ou de qualquer outra coisa que lhe diga respeito.
Custa-me saber que um dos jornais mais vendidos em Portugal seja um desportivo e que um dos programas mais vistos em Portugal seja a um jogo de futebol português ou um qualquer reality show. Admito que não sejam equiparáveis, mas também não é esse o propósito deste post.
Sou bastante crítico no que respeita à realidade cultural do nosso pais e da mediocridade cultural que parece institucionalizada, começando na nossa classe política e acabando nas nossas escolas. Escusado será dizer que existem excepções, bastantes, mas de longe constituem a maioria.
Parece-me paradigmático do que falo o exemplo (que me asseguraram ser verídico) de um presidente de câmara que recusou a instalação de uma Fnac no seu concelho, primeiro por desconhecer, sequer, o que fosse tal “modernidade”. Uma vez esclarecida a ignorância do autarca, manteve a recusa com o fundamento de que no concelho já havia muitas livrarias e lojas de música.
Permitir-se-lhe-ia a "nega", se em causa estivessem em causa a protecção dos pequenos lojistas, mas acreditem (conheço bem o concelho em questão) não é, nem o concelho, nem o autarca, um acérrimo defensor dos ditos lojistas. Conclusão: a fnac lá se acabou por instalar num concelho limítrofe.
Pensava ser este o ponto mais baixo, o pior, dos exemplares que pululam no nosso país, "bola" um domingo inteiro, novelas a partir das nove, "reality show" depois da novela, "A Maria" enquanto se espera pelo autocarro - para elas - jornal "A bola" para eles, desconhecer o que se passa no resto do mundo, mas saber quem é que namora com quem, quem foi á festa da em casa não sei de que diminutivo, etc, etc...
Dizia eu, pensava ser isto o pior do que havia em Portugal, até ter assistido, num dos telejornais nacionais, a uma manifestação do PNR, e das declarações dos seus ignóbeis participantes.
Não critico, em si, a manifestação.
Agora que, para se ser membro do PNR é imprescindível ser-se completamente desprovido de inteligência e assumir-se a todos os ventos a estupidez que graça o espírito, parece-me incontestável. Onde o que interessa é expressar o ódio pelos emigrantes, pelos homossexuais, equiparar um pedófilo a um homossexual, ou afirmar-se, convictamente, que 80% dos pedófilos são homossexuais. Quanto a argumentos que justifiquem as afirmações ou que corroborem as estatísticas, levou-os o vento. É o que dá não ter nada na cabeça, as correntes de ar dão-lhes cabo das ideias.
Lembro-me a este respeito de um “cartoon” do independente (o do cão e do pedinte de rua) em que o “cão” afirmava para o pedinte (já devidamente caracterizado de “skinhead”) que para a transformação estar completa, só lhe faltava uma coisa: a lavagem cerebral. A ideia não poderia ser melhor ilustrada.
Mil vezes o Zé Manel, o jornal "a bola" (as minhas desculpas aos seus leitores habituais que não se inserem nas classes a cima descritas), as dúvidas da "Maria" e as previsões da Maia.

Ao menos é uma pobreza de espírito que não contamina.

De volta.

Em resposta a um repto lançado por um amigo, retomo as minhas viagens.

6 de maio de 2005

"A Interprete"

Fui ver com M… o novo filme de Sydney Pollack “A Interprete”, com Nicole Kidman e Sean Penn nos principais papeis.

Francamente, gostei e aconselho. Não pelo facto de a cena inicial ter sido filmada em Moçambique, mas também pela brilhante interpretação de N. K..

Vale o filme, pela fiel representação do "sentir África”.

Encontrei no filme um sentimento que reconheci noutras pessoas, noutras situações: África não é dos negros, mas de quem nasce.

Não esse lugar comum de quepátria é onde nascemos”. A ligação de África com quem nasce e/ou viveu, conviveu com as suas gentes, é diferente de qualquer outra ligação à mãe pátria. É uma ligação muito mais forte do que qualquer outra. África entranha-se na pele de quem por passou e fica um sentimento forte, uma saudade própria, uma melancolia inigualável, um aperto no coração na hora da partida, uma ânsia da expectativa do regresso, uma paixão pela sua terra, pelas pessoas, pela sua imensidão, pelo seu horizonte inantigível mesmo pelo olhar...

Vejam o filme, talvez consigam perceber, melhor, o que quero dizer.

1 de maio de 2005

Não chega, já!?

Quero apenas partilhar algumas questões que, nos últimos dias, me tem vindo a atormentar o espírito.
Não conheço o processo. O juízo de valor que aqui faço é única e exclusivamente baseado no que transparece da comunicação social.
Será compreensível que uma testemunha esteja a ser ouvida há mais de 1 mês (a caminho do mês e meio), num processo judicial?
Refiro-me ao processo casa pia e a Catalina Pestana, que ao que me deu perceber continuará a ser ouvida na próxima semana.
Terá a tal senhora assim tanto para dizer? Terá competência para se pronunciar sobre o estado de espírito das crianças ou a forma como as mesmas foram afectadas pelo que se passou - não será preferível ouvir isso da boca de um especialista (sem querer negar o sofrimento e as alterações psíquicas que podem resultar para as vítimas)? Até que ponto será válido o seu depoimento, na medida em que refere o que lhe foi dito pelas crianças (lembro que o depoimento indirecto só vale como prova em casos muito específicos)?
E já agora, porque é que um documento que estava em posse da PJ desde 2003, supostamente, elaborado por uma das vítimas e que descrevia os encontros e que neles participava, só agora foi levado a julgamento?
Que raio de julgamento é este? Que raio andarão os digníssimos magistrados a fazer? Que raio de justiça é esta?
Ou será que o processo está de tal forma inquinado, que a única forma de se conseguir dar alguma credibilidade a toda essa trapalhada é arrastar este circo todo?
Será má vontade minha? Será que ninguém mais percebe o absurdo disto tudo?
Não chegará já de se brincar à justiça, e começarem a trabalhar como deve ser, cumprir as funções que lhes foram destinadas, sem rodeios, sem protagonismos...
De facto, quando em vez de juízes e procuradores temos funcionários públicos a desempenhar essas funções, é nisto que dá...

18 de abril de 2005

Lembras-te, Pai?

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)


Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã" 1936

15 de abril de 2005

Belo Belo

E não fosse este um Blog dedicado, em parte, á bela poesia de Manoel Bandeira. Este, para mim, é um dos mais belos dele... Espero que apreciem, tanto quanto eu.

Belo belo belo,

Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manoel Bandeira.

10 de abril de 2005

Os Sapos

Fica aqui outro poema que me lembro da minha infância (também de Manoel Bandeira):

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio

Manoel Bandeira - 1918

De Volta.... se bem que só por um bocadinho.

Assuntos de ordem profissional, têm-me mantido afastado do blog. Retomarei a minha actividade, assim que possível.
Até lá.

17 de março de 2005

Pasárgada

Partilho aqui o que a ignorância e a curiosidade, mais a primeira que a segunda, me levaram hoje a esclarecer.
Na WIKIPEDIA (enciclopédia livre on-line: http://pt.wikipedia.org/) fiquei a saber que: "Pasárgada é um sítio arqueológico no actual Irão, situado 87 km a nordeste de Persépolis.
Foi a primeira capital da Pérsia Aqueménida, no tempo de Ciro, o Grande, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes.
Alexandre Magno da Macedónia passou por aqui aquando das suas campanhas contra Dário III, em 330 a.C.."

Não conheço nem uma, nem outra, mas, sem mais, garanto que prefiro aquela aonde Manoel Bandeira é amigo do Rei.

O Bicho

"VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem."

Manoel Bandeira

16 de março de 2005

A explicação do inicío.

O título (ou nome...) deste sítio surgiu da recordação de um dos vários poemas que meu pai me costumava ler em criança.
Poema que na minha juventude (re)descobri numa das deambulações pelos livros de casa. Trata-se de o início de um poema de Manoel Bandeira que agora tento, de memória, transcrever a primeira quadra:
"Vou-me embora para Pasárgada,
sou amigo do Rei
Terei a
mulher que quero
Na
cama que escolherei..."

Nunca fui um grande admirador de poesia, confesso. Descobri esse gosto depois de academicamente formado. Mas tenho como meus (perdoem-me, os autores, a impertinência) muitos desses poemas que, em criança, ouvia o meu pai ler-me.
Talvez tenha vindo daí, também, o gosto particular pela poesia de Manoel Bandeira.

15 de março de 2005

Inauguração...

Sem grande pompa ou circunstância, e sem grandes conhecimentos "destas" coisas, dou início a este meu blog. Sem qualquer ambição ou plano... simplesmente escrever sobre tudo e sobre nada, apenas para quem, sem nada melhor para fazer, me queira ler.
Declaro aberto o Blog... A todos: "seja bem vindo quem vier por bem".