23 de abril de 2007

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Hoje voam pássaros sem asas
Na terra desabrocham cores de guerra
E hoje as flores rolam pelo chão
Como se fossem pedras
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3 de abril de 2007


[vista parcial da torre da Tate Galery em Londres. Foto de minha autoria]


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse. Quando me dizem: "vem por aqui"! Eu olho-os com olhos lassos, (há nos meus olhos, ironias e cansaços)

e cruzo os braços,

e nunca vou por ali...

A minha glória é esta: criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. Que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí!

Só vou por onde me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde, por que me repetis: "vem por aqui"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos, como farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí...

Se vim ao Mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas e coragem para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, e vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide!

Tendes estradas, tendes jardins, tendes canteiros, tendes pátrias, tendes tectos, e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios. Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a como um facho a arder na noite escura, e sinto espuma, e sangue e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam,

mais ninguém!

Todos tiveram Pai, todos tiveram Mãe; mas eu, que nunca princípio nem acabo, nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se alevantou. É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

não sei para onde vou,

Sei que não vou por aí!

José Régio

1 de abril de 2007

Mãe

Quando eu nasci, ficou tudo como estava, Nem homens cortaram veias, nem o Sol escureceu, nem houve Estrelas a mais... Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu. Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu. As nuvens não se espantaram, não enlouqueceu ninguém... P'ra que o dia fosse enorme, bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe...

José Régio