Vem este postal a propósito de uma notícia da Revista "Sábado" desta semana (a n.º 207, de 17 a 24 Abril), intitulada "O JUIZ MAIS TEMIDO".
Trata-se de uma peça (des)infromativa sobre o Carlos Alexandre, Juiz, com o seguinte sub-título,: "MAGISTRADO QUE ESTÁ A INCOMODAR POLÍTICOS, EMPRESÁRIOS E BANQUEIROS".
É que a "notícia" é sobre um juiz que faz aquilo para o qual é pago (salvo o devido respeito, parece-me um pouco notícia sobre um calceteiro que faz calçada, ou sapateiro que arranja sapatos, sem querer ofender ninguém ou desprestigiar qualquer profissão)... Será o único? E por isso (coisa rara) torna-se imperativa a notícia, como forma de mostrar aos "outros" o que é "trabalhar de juiz"?
Merecerá maior mérito o juiz que julga "políticos, empresários e banqueiros" porque infringem a lei, daquele que julga condutores alcoolizados?
É que se assim é, o mérito nem será dele, mas antes do Ministério Público que é o titular de toda e qualquer acção penal. Se ele, juiz, os julga e os condena, isto é, "incomoda", é porque alguém (o Ministério Público), já fez todo um trabalho anterior (investigação) e lhe apresenta a acusação... ou o "bandido" para ser ouvido em primeiro interrogatório e para lhe ser aplicada uma medida de coacção, maxime a prisão preventiva... (daí a comparação com o calceteiro ou o sapateiro). Lembro que o juiz, seja ele de instrução, seja de julgamento, não pode, por sua iniciativa, perseguir criminalmente quem quer que seja. Essa é a função de outra Magistratura, a do Ministério Público.
Tudo o que o Sr. Juiz se limita a fazer é desempenhar as funções que lhe foram atribuídas. Haverá alguma coisa de extraordinário, de tão raro que se torne necessária uma notícia? Ou ser-lhe-á exigível que faça o seu trabalho com todo o profissionalismo e competência?
Precisará, um juiz, para mostrar que desempenha a sua função (para a qual é pago), de promoção ou de cobertura jornalística? De expor a sua vida privada e os casos em que teve intervenção ou que tem em mãos?
É que o "ridículo" (desculpem mas não consigo encontrar outro adjectivo) da coisa vai ao ponto de ao mesmo tempo que mostra que sente medo do que faz, e por isso anda com segurança 24h ou que sente que foi marcado e que poderá ser abatido a qualquer momento, não se coíbe de se expor, de dar a conhecer o seu dia-a-dia, com horários, rotinas...
O mal não estará, somente, no visado pela notícia, mas também na própria revista. Uma revista que pretende ser um marco da informação, dá cobertura a notícia "cor de rosa", só faltavam as fotos do Sr. Juiz com a família, a mostrar os interiores da casa de família...
Haverá algo de muito errado nisto tudo?
É que "ele há coisas" que por mais que tente, nunca vou conseguir entender...
Andarão todos em sentido contrário, ou sou só eu?
Este não é o meu país (ou se calhar até é...). Seja como for, "vou-me embora..."