28 de abril de 2006

A Justiça Portuguesa em 1487

SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
Apesar disso tudo,
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de Ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.o,maço 7).
Nota: o texto ora transcrito não resultou de uma pesquisa feita por mim, mas apenas de um email que me foi enviado, fica feita a ressalva.

18 de abril de 2006

A relatividade do Amor

- Amor! Por ti atravessava um oceano inteiro, só para te ver!
- Então porque não me vieste ver ontem?
- Mas como!? Não viste como chovia!?

Versos de orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
__O jardim dos meus versos todo em flor ...
A seara dos teus beijos, pão bendito ...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.
Florbela Espanca

14 de abril de 2006

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
.

12 de abril de 2006

A Volta do Malandro

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé


Chico Buarque, Ópera do Malandro

11 de abril de 2006

Remissão

Para um post, que acho que merece a pena ser lido (apesar da sua extensão).

O malandro

O malandro/Tá na greta
Na sarjeta/Do país
E quem passa/Acha graça
Na desgraça/Do infeliz
O malandro/Tá de coma
Hematoma/No nariz
E rasgando/Sua bunda
Uma funda/Cicatriz
O seu rosto/Tem mais mosca
Que a birosca/Do Mané
O malandro/É um presunto
De pé junto/E com chulé
O coitado/Foi encontrado
Mais furado/Que Jesus
E do estranho/Abdômen
Desse homem/Jorra pús
O seu peito/Putrefeito
Tá com jeito/De pirão
O seu sangue/Forma lagos
E os seus bagos/Estão no chão
O cadáver/Do indigente
É evidente/Que morreu
E no entanto/Ele se move
Como prova/O Galileu

Kurt Weill - Bertolt Brecht
versão livre de Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque

9 de abril de 2006

Ao serão

Para a serão, está reservada uma ida ao teatro, assistir à versão concerto da "Opera do Malandro" (que dispensa apresentações), que os teatros açoreanos, infelizmente, não têm dimensão para a grandiosidade da Opera completa.

Ao Jantar

Para acompanhar a estreia na feijoada de leitão, puxei de um Anta da Serra, do Redondo, de 2002 (tinto... claro).
Mostrou-se estar à altura, com a sua "cor rubi intensa, o seu aroma a frutos vermelhos com notas de baunilha e sabor encorpado e aveludado".
Só faltou, mesmo, uma bela companhia para a conversa, para ajudar na degustação.

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Chico Buarque

7 de abril de 2006

Goethe

("Noite serena" de Vincent Van Gogh)

"Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas..."
P.S.: Obrigado, M...!

O Falhado

Para saber, siga os passos abaixo:

  1. Vá ao site www.google.pt;
  2. Escreva a palavra "failure" (Falhado);
  3. Em vez de carregar em "pesquisar google", clique em "sinto-me com sorte".

Bíblico-Jurídico

«Moisés lia os mandamentos ao seu Povo:
- Nono mandamento: não desejarás a mulher do próximo.
Ouve-se então um grande clamor do Povo.
Moisés esclarece: Calma, isto é o que a Lei diz. Esperemos para ver o que diz a Jurisprudência...»

6 de abril de 2006

O Roupão

"Estávamos mesmo tão acordados que a posição deitada se tornou fatigante e acabámos por nos sentarmos, bem protegidos pelos cobertores, com os queixos enterrados entre os joelhos erguidos, como se as nossas coxas fossem botijas de calor. Sentíamo-nos perfeitamente bem ali no quente, tanto mais que lá fora, e no próprio quarto, sem aquecimento, reinava um frio cortante. A este respeito acrescento que para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio; porque neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe. Se uma pessoa se vangloria de um conforto pleno e perene, isto é o mesmo que afirmar que não se encontra mais em condições de avaliar o que é o conforto. Mas se, à semelhança de Queequeg e de mim próprio, uma pessoa se encontra na cama com a ponta do nariz e o alto da cabeça ligeiramente friorentos, então, na verdade, essa pessoa pode afirmar com toda a consciência que sente o mais delicioso e inequívoco calor. Por este motivo um quarto com cama nunca devia dispor de aquecimento, que é um dos luxuosos desconfortos dos ricos. Porque a suprema delícia é não ter, entre o nosso corpo e o frio exterior, outra coisa além dos cobertores. Então podemos dizer que somos uma fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico."

Ismael (Herman Melville), Moby Dick

5 de abril de 2006

"(...) neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe."

Ismael

2 de abril de 2006

A Coxa

"Passou por mim uma coxa...
Tinha, coitada, uma perna menor que a outra
E pareceu-me ler-lhe nos lábios, nas roupas, no olhar,
O esforço desmedido de quem luta pelo impossível equilíbrio.
Todos corriam, atarefados, em todas as direcções,
Tensos com a vida, decididos, derrotados.
Alguns carregavam pesadíssimos sacos de compras
E planeavam mentalmente o jantar para a família.
Um par de namorados argumentava, cerradamente, sobre coisas sérias,
Toldavam-se, contidamente, em gestos, palavras e expressões.
A coxa parara junto a uma montra de revistas...
Descansava.
Então, um rapaz segurou-a por trás, pela cintura,
Beijou-a e pronunciou um "
meu amor" seguro.
A lágrima contida já se soltara do olhar dos namorados...
Colando mais um cigarro incandescente aos meus lábios enxutos,
Fiquei quieto, muito quieto, a pensar...
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
"
Claro... Manoel Bandeira