5 de abril de 2006

"(...) neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe."

Ismael

3 comentários:

Anónimo disse...

Entendo, mas não concordo... inteiramente.
É no "contraste" que encontra as diferenças. Mas, de antemão, sabe quais tem e o valor que lhes atribui...

JTR disse...

A questão em que, se não tiver com o que constratar, nunca poderá conhecer o diferente, e daí retirar o que, para si, tem mais valor e as suas reais caracaterísticas. Ex.: Se não tiver o desconforto do frio, nunca poderá apreciar o conforto do calor. Por acaso era sobre isso que Ismael falava quando conclui da forma transcrita. Deixo-lhe aqui o parágrafo:
"Estávamos mesmo tão acordados que a posição deitada se tornou fatigante e acabámos por nos sentarmos, bem protegidos pelos cobertores, com os queixos enterrados entre os joelhos erguidos, como se as nossas coxas fossem botijas de calor. Sentíamo-nos perfeitamente bem ali no quente, tanto mais que lá fora, e no próprio quarto, sem aquecimento, reinava um frio cortante. A este respeito acrescento que para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio; porque neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe. Se uma pessoa se vangloria de um conforto pleno e perene, isto é o mesmo que afirmar que não se encontra mais em condições de avaliar o que é o conforto. Mas se, à semelhança de Queequeg e de mim próprio, uma pessoa se encontra na cama com a ponta do nariz e o alto da cabeça ligeiramente friorentos, então, na verdade, essa pessoa pode afirmar com toda a consciência que sente o mais delicioso e inequívoco calor. Por este motivo um quarto com cama nunca devia dispor de aquecimento, que é um dos luxuosos desconfortos dos ricos. Porque a suprema delícia é não ter, entre o nosso corpo e o frio exterior, outra coisa além dos cobertores. Então podemos dizer que somos uma fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico."
Herman Melville, Moby Dick

Anónimo disse...

Vejo que a história de Moby Dick continua a mantê-lo preso à sua leitura!

Não podia estar mais de acordo com Queequeg e o narrador! Sermos a "fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico"... Uma delícia!! :)