18 de agosto de 2008

O “meu“ país

Sou leitor do que Rui Tavares costuma escrever na ultima pagina do jornal o Público. Regra geral, concordo com o que escreve e partilho da sua opinião.
Na sua crónica de hoje dedicada, em suma, ao caso da criança baleada por soldados da GNR, a excepção confirma a regra.
Escreve o Autor, a linhas tantas "Pois aqui vai um pouco de "demagogia": já chegámos à indiferença, falta pouco para a desumanidade. Um crime contra a propriedade não valida a morte de ninguém, incluindo uma criança filha de um criminoso. Um pouco de "esquerdismo": se morreu desnecessariamente um miúdo, pouco importa se o pai dele era foragido e conduzia um mercedes. E um pouco de "politicamente correcto": os ciganos também não gostam quando os filhos deles morrem."

Caro Rui Tavares, parece-me, efectivamente pura e desnecessária demagogia. Não o será se a GNR actuou da forma como fez (disparando os tais sete tiros), porque os assaltantos eram ciganos e se, independentemente de se terem apercebido da presença da criança, mantiveram a sua actuação, indiferentes às possíveis, previsíveis e prováveis consequências. Isto partindo do pressuposto que a GNR tem modos de actuação consoante a "raça" dos assaltantes.
Acreditar ou defender isso, parece-me será entrar na mesma estupidez de quem colocou a coroa de flores  à porta do balcão do BES, em homenagem ao assaltante baleado pela PSP, e onde se podia ler que o assaltante só foi morto porque era brasileiro (a estupidez está no escrito, não no gesto).
Não quero acreditar que a GNR tenha modos de operar consoante a nacionalidade ou "raça" dos bandidos.
É lógico que um crime contra a propriedade não valida a morte de ninguém, muito menos de uma criança. Acredito que foi um final trágico para o sucedido, mas foi um final não previsto, nem querido pelos soldados da GNR.
Mas parece-me que, no fundo, e pelo que tenho ouvido e lido, nos esquecemos do seguinte: o que dizer de quem leva uma criança para um assalto? Que classificação merecerá? Independentemente da actuação da GNR (se houve descuido, sou o primeiro a exigir que se puna o responsável), não haverá responsabilidades a assacar ao pai e ao tio que levaram o miúdo para o assalto?

Não posso deixar de concordar com o que diz Ferreira Fernandes, no DN: "o que me preocupa mais no meu país é que haja um pai e um tio que levam um garoto de 13 anos para um assalto".

Infelizmente, continua a ser este o meu país.

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