A questão em que, se não tiver com o que constratar, nunca poderá conhecer o diferente, e daí retirar o que, para si, tem mais valor e as suas reais caracaterísticas. Ex.: Se não tiver o desconforto do frio, nunca poderá apreciar o conforto do calor. Por acaso era sobre isso que Ismael falava quando conclui da forma transcrita. Deixo-lhe aqui o parágrafo: "Estávamos mesmo tão acordados que a posição deitada se tornou fatigante e acabámos por nos sentarmos, bem protegidos pelos cobertores, com os queixos enterrados entre os joelhos erguidos, como se as nossas coxas fossem botijas de calor. Sentíamo-nos perfeitamente bem ali no quente, tanto mais que lá fora, e no próprio quarto, sem aquecimento, reinava um frio cortante. A este respeito acrescento que para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio; porque neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe. Se uma pessoa se vangloria de um conforto pleno e perene, isto é o mesmo que afirmar que não se encontra mais em condições de avaliar o que é o conforto. Mas se, à semelhança de Queequeg e de mim próprio, uma pessoa se encontra na cama com a ponta do nariz e o alto da cabeça ligeiramente friorentos, então, na verdade, essa pessoa pode afirmar com toda a consciência que sente o mais delicioso e inequívoco calor. Por este motivo um quarto com cama nunca devia dispor de aquecimento, que é um dos luxuosos desconfortos dos ricos. Porque a suprema delícia é não ter, entre o nosso corpo e o frio exterior, outra coisa além dos cobertores. Então podemos dizer que somos uma fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico." Herman Melville, Moby Dick
3 comentários:
Entendo, mas não concordo... inteiramente.
É no "contraste" que encontra as diferenças. Mas, de antemão, sabe quais tem e o valor que lhes atribui...
A questão em que, se não tiver com o que constratar, nunca poderá conhecer o diferente, e daí retirar o que, para si, tem mais valor e as suas reais caracaterísticas. Ex.: Se não tiver o desconforto do frio, nunca poderá apreciar o conforto do calor. Por acaso era sobre isso que Ismael falava quando conclui da forma transcrita. Deixo-lhe aqui o parágrafo:
"Estávamos mesmo tão acordados que a posição deitada se tornou fatigante e acabámos por nos sentarmos, bem protegidos pelos cobertores, com os queixos enterrados entre os joelhos erguidos, como se as nossas coxas fossem botijas de calor. Sentíamo-nos perfeitamente bem ali no quente, tanto mais que lá fora, e no próprio quarto, sem aquecimento, reinava um frio cortante. A este respeito acrescento que para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio; porque neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe. Se uma pessoa se vangloria de um conforto pleno e perene, isto é o mesmo que afirmar que não se encontra mais em condições de avaliar o que é o conforto. Mas se, à semelhança de Queequeg e de mim próprio, uma pessoa se encontra na cama com a ponta do nariz e o alto da cabeça ligeiramente friorentos, então, na verdade, essa pessoa pode afirmar com toda a consciência que sente o mais delicioso e inequívoco calor. Por este motivo um quarto com cama nunca devia dispor de aquecimento, que é um dos luxuosos desconfortos dos ricos. Porque a suprema delícia é não ter, entre o nosso corpo e o frio exterior, outra coisa além dos cobertores. Então podemos dizer que somos uma fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico."
Herman Melville, Moby Dick
Vejo que a história de Moby Dick continua a mantê-lo preso à sua leitura!
Não podia estar mais de acordo com Queequeg e o narrador! Sermos a "fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico"... Uma delícia!! :)
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