7 de setembro de 2006

Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos

8 comentários:

Anónimo disse...

Há alturas da vida em que estamos assim... cansados!
Umas vezes sabemos porquê, outras nem os porquês sabemos.

Mas não devemos deixar-nos levar por ele! Nem desistir de pensar... muito menos perder a esperança!
A cabeça serve para dar ordens ao corpo e a nós próprios para não desistirmos, nem cedermos a esse "cansaço".

Recorrendo à "mesma cabeça":
«Ser feliz é reconhecer que VALE A PENA viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise,
(...) é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.»

Fique bem!

Anónimo disse...

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."

Anónimo disse...

...

«Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!»

Alberto Caeiro

...

Anónimo disse...

"Começar de novo e contar comigo,
Vai valer a pena ter amanhecido.

Ter me rebelado, ter me debatido.
Ter me machucado, ter sobrevivido.

Ter virado a mesa, ter me conhecido.
Ter virado o barco, ter me socorrido.

Começar de novo e contar comigo,
Vai valer a pena ter amanhecido.
Sem as suas garras sempre tão seguras.
Sem o teu fantasma sem tua moldura.

Sem suas escoras, sem o teu domínio.
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio.

Começar de novo, e contar comigo,
Vai valer a pena já ter te esquecido.

Começar de novo" ...

Anónimo disse...

No fim... no princípio... em tudo... se há uma pessoa com quem podemos contar... SEMPRE... é connosco próprios!!

Para tal, é indispensável parar, pensar, encontrarmo-nos (...) Só assim podemos (re)começar e viver a vida plenamente!

Anónimo disse...

Esse é o segredo e não poderia estar mais de acordo,... (e como me soa familiar)..., mas lembre-se que "a primeira e a pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo"..."só nos encontramos a nós mesmos depois de encarar a verdade"... e aí sim: "feliz é quem se reencontra com prazer ao despertar, reconhecendo-se como pessoa que gosta de ser."...

Anónimo disse...

Paul Valéry! Acredito que esse último pensamento já deixou muitas pessoas a pensar... Acordar e olharem-se no espelho... Reflectirem na pessoa que são... na pessoa que crêem ser... e concluirem se gostam da pessoa que vêem!

Anónimo disse...

Não se canse...não desespere e, acima de tudo, não desista...lembre-se que "Talvez o fim não seja o fim e ainda
haja mais qualquer coisa além do fim.
Talvez ao fim da noite que não finda
haja um dia sorrindo para mim"...e neste caso também para si! :)