12 de setembro de 2006

Femme

[Salvador Dali - Pintura de 1960]

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
(...)
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!
Claro!... Manoel Bandeira

4 comentários:

Anónimo disse...

É fantástico!
E... Claro! Só podia...

Anónimo disse...

..."há palavras que nos beijam"... :)

JTR disse...

Manoel Bandeira tem, de facto, essa capacidade, expressar o mais profundo sentimento, de forma simples, mas igualmente profunda. É como (re)diz, "há palavras que nos beijam".

Anónimo disse...

Gostei, sinceramente, da combinação da poesia e do poema, acho que se complementam muito bem.
Sem desmerecer o poema, que é absolutamente fantástico, o quadro de Dalí é... apesar de totalmente "contrária" à restante (ou grande parte) obra do pintor (lembro-me, para além dos exemplos que publicou no seu blog, do famoso quadro dos relógios "derretidos" ao sol, ou dos outros com figuras grotescas), não deixa de transparecer algo de estranho... diria que a pintura é estranhamente simples. Não esconde totalmente a "loucura" inventada do seu autor.