«É mais difícil descrever a realidade do que a ficção. A ficção tem que fazer sentido»
16 de setembro de 2006
"Vou-me embora..."
15 de setembro de 2006
14 de setembro de 2006
Dali e O'Neill
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
13 de setembro de 2006
Renascer
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário
Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonho
uma alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
p'ra receber daquilo que aumenta o coração
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonho
uma alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
p'ra receber daquilo que aumenta o coração
12 de setembro de 2006
Femme
O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!
11 de setembro de 2006
Tabacaria (excertos)
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(…)
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
(...)
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(…)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(…)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
(…)
7 de setembro de 2006
Estou Cansado
6 de setembro de 2006
"Walking Around"
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
5 de setembro de 2006
Guernica
É, talvez, a primeira obra de arte de que tenho memória conhecer, o seu nome, o seu autor e o que representa. Não a conheço pessoalmente, mas recordo-me de que me ficou marcada na memória desde o primeiro momento que a vi, e já lá vão uns anos valentes.
Quem me a apresentou foi o meu pai, lembro-me disso. Tenho pena de não recordar as circunstâncias em que tal aconteceu.
4 de setembro de 2006
30 de agosto de 2006
"Miguel acordou a pensar em Maria. Não que tivesse estado a sonhar com ela, simplesmente a sua imagem apareceu na sua mente, assim "de repente, não mais que de repente". Sorriu, como que a responder ao sorriso doce e meigo de Maria.
23 de agosto de 2006
Sol de Maceió
Penedo, Alagoas
[clique na foto para ampliar]
Pormenor da marginal de Penedo, Alagoas. Em segundo plano vê-se o Rio São Francisco.
O "Velho Chico"
Foz do "Velho Chico"
[clique na imagem para ampliar]
Onde as águas do Velho Chico (Rio São Francisco) se encontram com a do Oceano Atlântico. Acreditem que a luta não é assim tão desigual quanto a dimensão dos dois posssa sugerir.
21 de agosto de 2006
Maceió
Histórico
Seu nome tem origem num engenho das margens da lagoa Mundaú, chamado maçaio, nome este vindo do tupi "Massayó-k", ou "o que tapa o alagadiço".
Terá sido fundada em 5 de dezembro de 1815, sendo o município desmembrado do município de Alagoas (atual Marechal Deodoro), e em 29 de dezembro de 1816 ocorre a elevação da condição de povoado a vila, principalmente por causa do desenvolvimento vindo do porto de Jaraguá, um "porto natural" que facilitava o atracamento de embarcações, por onde eram exportados açúcar, fumo, coco e especiarias. Com o contínuo processo de desenvolvimento da cidade, se torna a capital da província de Alagoas em 9 de dezembro de 1839, com o simbólico ato da transferência do Tesouro da Província para Maceió.
Geografia
Há vários anos atrás formavam-se terrenos alagados, criados da vinda de sedimentos e vegetais dos rios Mundaú e Paraíba do Meio, o mar também mandou sedimentos, fechando as fozes dos respectivos rios, formando assim o que hoje conhecemos por Lagoas Mundaú e Manguaba, um dos maiores complexos estuarinos do Brasil.
Foi sobre esses alagadiços e restingas que a cidade de Maceió cresceu. Dois bairros da capital abrigam pouco menos da metade da população, são eles: Benedito Bentes e Jacintinho, ambos com 200 mil habitantes cada, o Jacintinho é um complexo de favelas, já o Benedito Bendes é um Conjunto Habitacional criado há vinte anos que, atualmente, abriga muitos outros conjuntos ao seu redor, que juntos às favelas e grotas formam o bairro. Já tramitou na Câmara Municipal de Maceió uma proposta para o desmembramento do Benedito Bentes de Maceió, transformando-o em uma nova cidade.
Segundo os próprios investidores do setor, a construção civil na capital é uma das mais bem-sucedidas do país, o número máximo de andares na parte que vai do Pontal da Barra à parte de Cruz das Almas é de oito andares na beira-mar, motivo: O Farol da Marinha do Brasil localizado no bairro do Jacintinho. É sabido que quanto menos andares um edifício tem, mais caro é o preço dos apartamentos; mas hoje a especulação imobiliária está no Litoral Norte da cidade, bairros como Riacho Doce, Guaxuma e Ipioca estão com os terrenos super-valorizados, o que preocupa tanto os moradores do local, quanto as autoridades, que vêem que lá não existe a infra-estrutura necessária para uma grande urbanização, tal como se pretende. Por isso, este local ganhou grande destaque na criação do Plano Diretor, que está tramitando na câmara municipal. Entre as principais propostas de estruturação do lugar, pretende-se: Sanear a região, para proteger os rios que a cortam; duplicar as rodovias de acesso; e é claro, o ponto mais crítico do Plano, o número de andares que cada prédio poderá ter, os construtores divergem com a prefeitura a altura máxima e afastamento mínimo dos edifícios, vale lembrar que o bem-estar físico, mental e econômico da população é o que deveria pesar.
Maceió tem, segundo pesquisas, a segunda melhor água potável do Brasil, possui clima tropical, a menor temperatura registrada na capital foi 16ºC, o sol aquece a cidade durante 270 dias do ano.
A cidade é rica em sal-gema, e tem um setor industrial diversificado (industrias químicas, açúcareiras e de álcool, de cimento e alimentícias), além da agricultura, pecuária e extração de gás natural e petróleo.
Em 2003, o PIB da capital girava em torno de 5,8 bilhões de reais, número significativo que mereceu destaque por ter vindo antes do "boom" do comércio e turismo em Maceió, que ocorreu com a abertura de diversos hipermercados, hotéis, do Centro de Convenções e do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares. A expectativa é de que os próximos números sejam ainda mais animadores.
Turismo
Outro ponto forte na economia da cidade é o turismo, pois a cidade possui um grande potencial de atrair turistas, por suas belezas naturais e grande diversidade cultural, além de oferecer várias opções de lazer e espaços modernos para negócios, tais como o novo Centro Cultural e de Exposições de Maceió, no bairro de Jaraguá. Em setembro de 2005, foi inaugurado o Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, um dos mais modernos do Brasil. O bairro de Jaraguá foi muito frequentado durante o fim dos anos 90, com grandes investimentos da prefeitura de Maceió, hoje em dia é apenas um bairro comercial.
Demografia
Desde a década de 60 Maceió vem crescendo em um ritmo acelerado, na epóca contava com cerca de 184.644 habitantes, 24 anos depois, em 1984, a cidade já tinha cerca de 399.298 habitantes, em 2000, o censo demográfico do IBGE registrou cerca de 796.842 pessoas, hoje são aproximadamente 903 mil habitantes, divididos em 511 km². A cidade tem uma densidade demográfica de 1.731,74 hab./km².
Cultura
Maceió tem uma cultura marcante, representada principalmente pelo seu rico folclore. Dentre as manifestações folclóricas há os folguedos, tais como: Caboclinho, Carvalhada, Chegança, Coco Alagoano, Festa de Reis, Guerreiro, Pastoril, Reisado, Quilombo, Zabumba, e, também, o artesanato representado pelo filé e pela cerâmica que encanta a todos por sua criatividade, originalidade e beleza.
A cidade conta com vários locais de comercialização de sua cultura e artesanato, como a Feirinha da Pajuçara, Feirinha do Mercado , este que após um incêndio em dezembro de 2005, foi transferido da Jatiuca para a Ponta Verde e agora tem um futuro incerto.
Em novembro é realizado um dos maiores carnavais fora de época do país, o Maceió Fest, que em 2005 adotou o formato Indoor, o que causou vários protestos e muita polêmica, se cogita a volta dos foliões a rua.
20 de agosto de 2006
Francis Obikwelu e Maria João Pires, por Francis Pires
19 de agosto de 2006
"Mucuripe"
Vão sair para pescar
Vão levar as minhas mágoas
Prás águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar
[Foto: Maceió, Alagoas]
[Para ouvir a música, clique na ligação: http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/player/frameset.php?opcao=umamusica&nomeplaylist=000415-7_13<@ ou no título]
18 de agosto de 2006
O Céu de Maceió
[Clique na foto para ampliar]
O céu em Maceió é qualquer coisa de, simplesmente, fantástica. Reparem nas cambiantes do azul do céu (tudo natural). Assombroso. (Deviam ser umas 15h30).
15 de agosto de 2006
Directamente de Maceió, Estado de Alagoas, Brasil, chegam as primeiras fotos...
27 de julho de 2006
12 de julho de 2006
5 de julho de 2006
4 de julho de 2006
Receita de mulher
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca [inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer [beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
1 de julho de 2006
Soneto a Quatro Mãos
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
.
Tão prodígo de amor fiquei coitado
Tão facil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
29 de junho de 2006
«Ontem, a Lusa disse que no julgamento do processo Casa Pia foi ouvido um inspector da PJ sobre escutas a Paulo Pedroso. Diz a notícia: “Nas escutas há, designadamente, uma conversa entre Paulo Pedroso e o ex-juiz Simões de Almeida onde se refere que Carlos Cruz teria ‘comprado’ a capa da revista ‘Focus’.”
Comprado, na notícia, vem entre aspas. Na altura, eu era director da ‘Focus’. Um jornalista que se deixa comprar, com aspas ou sem, é um canalha. Um advogado pediu para eu ser ouvido, como testemunha, e eu vou a Tribunal dizer coisa simples. Ou aquela referência não existe, e quem a inventou vai levar um par de bofetadas em público. Ou existe e quem a disse (de ex-ministro a ex-juiz) vai levar um par de bofetadas. É só. É tempo de este caso começar a ter ideias simples.»
As "bofetadas" de Ferreira Fernandes
Sou acérrimo leitor das crónicas e dos livros que, Ferreira Fernades, vai escrevendo. Sempre o tive e continuarei a ter como um dos melhores jornalistas portugueses. Sempre o admirei e admiro pela sua escrita íntegra, isenta e acima de tudo reveladora de uma grande honestidade intelectual. Nem sempre concordo com ele mas sempre respeitei a sua opinião.
Ferreira Fernades resume o que deve ser um bom jornalista. Que continue sempre assim e se para tal forem precisas bofetadas que seja.
Um Abraço!
28 de junho de 2006
"Soneto da Separação" #2
27 de junho de 2006
Soneto da separação
De repente, não mais que de repente
26 de junho de 2006
"Os livros mudam o destino das pessoas."
(...)
Repare, não é qualquer um que escreve. Quer dizer: não o deveria fazer.
(...)
Confesso que algumas reflexões me tentaram, mas um leitor é um viajante através de uma paisabem que se foi fazendo. E é infinita. A árvore foi escrita, e a pedra, e o vento na ramaria, a saudade dessas ramagens e o amor ao qual emprestou a sua sombra. E não encontro melhor sina que percorrer, em poucas horas diárias, um tempo humano que, de outro modo, me seria alheio. Não chega uma vida para percorrê-lo. Roubo a Borges metade de uma frase: uma biblioteca é uma porta no tempo.»
20 de junho de 2006
Obrigado
Obrigado a quem, do "tecto do mundo", nos dá o prazer da sua presença e companhia, sempre assíduas.
14 de junho de 2006
O fantástico "mundo" do Google Earth
6 de junho de 2006
Mia Couto
3 de junho de 2006
A pena de morte como factor dissuasor da criminalidade
"Outra explicação para a diminuição do crime é frequentemente citada a para da prisão: o aumento da aplicação da pena de morte. O número de execuções nos Estados Unidos quadruplicou entre os anos 80 e os anos 90, conduzindo muitas pessoas a concluir (...) que a pena de morte ajuda a diminuir o número de crimes."
"Em primeiro lugar, dada a pouco frequência com que as execuções são levadas a cabo neste país [Estados Unidos da América] e a enorme demora em aplicá-las realmente, nenhum criminoso razoável deveria ficar intimidado com a ameaça de execução. Embora a pena capital tenha quadruplicado no espaço de uma década, houve «apenas» 478 execuções em todo os Estados Unidos durante os anos 90. (...) O Estado de NY, por exemplo, não registou uma única execução desde que voltou a instituir a pena de morte, em 1995. Até mesmo entre os prisioneiros do corredor da morte, a taxa de execução anual é «apenas» de dois por cento - o que é muito pouco comparado com os sete por cento de probabilidade de morte enfrentada todos os anos por um membro da quadrilha negra de tráfico de droga (...). Se a vida no corredor da morte é mais segura do que a vida nas ruas, é difícil de acreditar que o medo da execução seja uma força motriz nos cálculos de um criminoso."
(...)"A segunda falha no argumento da pena de morte é ainda mais óbvia. Pensemos por um momento que a pena de morte é um facto de dissuasão. Quantos crimes é que ela, na realidade, dissuade de praticar? O economista Isaac Ehrlich, num artigo
ciêntífico de 1975, muitas vezes citado, avança uma estimativa que é geralmente considerada optimista: a execução de um criminoso traduz-se em menos sete homicídios que o criminoso poderia ter cometido. Agora, façamos as contas. Em 1991, houve quatorze execuções nos Estados Unidos; em 2001, houve sessenta e seis. De acordo com os cálculos de Ehrlich, essas cinquenta e duas execuções a mais teriam evitado trezentos e sessenta e quatro homicídios em 2001 - um número que não é desprezível, claro, mas que representa menos de quatro por cento da diminuição real de homicídios nesse ano. Assim, mesmo na melhor das hipóteses, para um defensor da pena de morte, esta apenas poderia explicar vinte e cinco avos da queda do número de homicídios nos anos 90. E, uma vez que a pena de morte raramente é aplicada a crimes diferentes do homicídio, o seu efeito
dissuasor não pode ser tomado em consideração para o declínio dos outros crimes
violentos.""É, pois, extremamente improvável que a pena de morte, tal como é aplicada nos Estados Unidos, exerça qualquer influência real nas taxas da criminalidade."
1 de junho de 2006
27 de maio de 2006
Afinal quem nasceu primeiro foi.. o ovo!
Em resumo, o argumento é de que o material genético não se transforma durante a vida do animal. Portanto, a primeira ave que no decorrer da evolução se tornou o que hoje chamamos de galinha existiu primeiro como embrião no interior de um ovo.
Para Brookfield, a situação é clara. O organismo vivo no interior do ovo tinha o mesmo DNA que o animal no qual ele se transformaria. Assim, "a primeira coisa viva que podemos qualificar sem medo de engano como membro dessa espécie é o primeiro ovo", argumenta.
David Papineau, um especialista em filosofia da ciência do King´s College de Londres, concorda. O primeiro frango saiu de um ovo. É um erro, segundo ele, pensar que o primeiro ovo de galinha foi um mutante produzido por pais de outra espécie.
"Se dentro do ovo existe um frango, então é um ovo de galinha. Se um canguru pusesse um ovo, e dele saísse um avestruz, o ovo seria de avestruz e não de canguru", disse Papineau.
O jornal cita ainda Charles Bourns, granjeiro e presidente de uma entidade do setor avícola, que quis contribuir para o debate. "Os ovos existiam antes de nascer o primeiro pintinho. Claro que talvez não se parecessem com os de hoje", disse.
10 de maio de 2006
Omar Khayyam
"Todos sabem que eu nunca murmurei uma oração.
Todos sabem que nunca tentei dissimular os meus defeitos.
Ignoro se existe uma Justiça e uma Misericórdia...
Entretanto, tenho confiança, porque sempre fui sincero."
(...)
"Os nossos dias fogem tão rápidos como àgua do rio ou vento do deserto.
Entretanto, dois dias me deixam indiferentes:
O que passou e o que virá amanhã."
Ele foi famoso em vida como o matemático e astrônomo que calculou como corrigir o calendário persa. O seu calendário tinha uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos. Contribuiu em álgebra com o método para resolver equações cúbicas pela intersecção de uma parábola por um círculo, que viria a ser retomada séculos depois por Descartes.
A filosofia de Omar Khayyam era bastante diferente dos dogmas islâmicos oficiais. Concordou com a existência de Deus mas se opos à noção que cada acontecimento e fenômeno particular era o resultado de intervenção divina. Em vez disso ele apoiou a visão que leis da natureza explicam todos fenômenos particulares da vida observada.
Como poeta é conhecido pelo Rubaiyat, que ficaria famoso a partir da tradução de Edward Fitzgerald em 1839. - fonte: Wikipédia).
9 de maio de 2006
I'll Back You Up
I'll go on forever only knowing
I'll see you again
But I know
The touch of you is so hard to remember
But like that touch
I know no other
And for sure we have danced
In the risk of each other
Would you like to dance
Around the world with me
I'll be falling all about my own thing
And I know your the heaviest weight
When your not here that's hung
Around my head
And your lips burn wild
Thrown from the face of a child
And in your eyes
The seeing of the greatest view
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, I'll back you up
I remember thinking
Sometimes we walk
Sometimes we run away
But I know
No matter how fast we are running
Somehow we keep
Somehow we keep up with each other
I'll be falling all about my own thing
And i know your the heaviest weight
When your not here that's hung
Around my head
And your lips burn wild
Thrown from the face of a child
And in your eyes
The seeing of the greatest view
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, I'll back you up
28 de abril de 2006
A Justiça Portuguesa em 1487
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de Ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
18 de abril de 2006
A relatividade do Amor
Versos de orgulho
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!
O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
__O jardim dos meus versos todo em flor ...
A seara dos teus beijos, pão bendito ...
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.
14 de abril de 2006
Pela luz dos olhos teus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
12 de abril de 2006
A Volta do Malandro
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés
Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés
Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé
11 de abril de 2006
O malandro
Na sarjeta/Do país
E quem passa/Acha graça
Na desgraça/Do infeliz
O malandro/Tá de coma
Hematoma/No nariz
E rasgando/Sua bunda
Uma funda/Cicatriz
O seu rosto/Tem mais mosca
Que a birosca/Do Mané
O malandro/É um presunto
De pé junto/E com chulé
O coitado/Foi encontrado
Mais furado/Que Jesus
E do estranho/Abdômen
Desse homem/Jorra pús
O seu peito/Putrefeito
Tá com jeito/De pirão
O seu sangue/Forma lagos
E os seus bagos/Estão no chão
O cadáver/Do indigente
É evidente/Que morreu
E no entanto/Ele se move
Como prova/O Galileu
Kurt Weill - Bertolt Brecht
versão livre de Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque
9 de abril de 2006
Ao serão
Ao Jantar
Mostrou-se estar à altura, com a sua "cor rubi intensa, o seu aroma a frutos vermelhos com notas de baunilha e sabor encorpado e aveludado".
Só faltou, mesmo, uma bela companhia para a conversa, para ajudar na degustação.
Pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
7 de abril de 2006
Goethe
"Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas..."
O Falhado
Para saber, siga os passos abaixo:
- Vá ao site www.google.pt;
- Escreva a palavra "failure" (Falhado);
- Em vez de carregar em "pesquisar google", clique em "sinto-me com sorte".
Bíblico-Jurídico
6 de abril de 2006
O Roupão
5 de abril de 2006
2 de abril de 2006
A Coxa
Tinha, coitada, uma perna menor que a outra
E pareceu-me ler-lhe nos lábios, nas roupas, no olhar,
O esforço desmedido de quem luta pelo impossível equilíbrio.
Todos corriam, atarefados, em todas as direcções,
Tensos com a vida, decididos, derrotados.
Alguns carregavam pesadíssimos sacos de compras
E planeavam mentalmente o jantar para a família.
Um par de namorados argumentava, cerradamente, sobre coisas sérias,
Toldavam-se, contidamente, em gestos, palavras e expressões.
A coxa parara junto a uma montra de revistas...
Descansava.
Então, um rapaz segurou-a por trás, pela cintura,
Beijou-a e pronunciou um "meu amor" seguro.
A lágrima contida já se soltara do olhar dos namorados...
Colando mais um cigarro incandescente aos meus lábios enxutos,
Fiquei quieto, muito quieto, a pensar...
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei."