16 de setembro de 2006

"Vou-me embora..."

Pasárgada fecha hoje as suas fronteiras...
Pasárgada, não desaparece. Continuará aqui...
O autor desde blog, termina aqui a sua participação na blogosfera (sem prejuízo de o verem, de vez em quando a "aborrecer" por aí...).
A todos os que tiveram paciência de nos visitar, uns mais assiduamente que outros, e a todos aqueles que, ainda com mais paciência e boa vontade, enriqueceram este modesto espaço com os seus comentários e opiniões, o nosso mais sincero obrigado.
Poucas coisas na vida são definitivas, o "adeus" é uma delas. Por isso, e porque estamos em crer na brevidade da despedida, dizemos antes "Até logo..."

15 de setembro de 2006

"...Se eu pudesse, dava um toque em meu destino, não seria eu um peregrino nesse imenso mundo cão..."
Música de Seu Jorge, letra de Guará / Fernandinho

14 de setembro de 2006

Dali e O'Neill

[Girl at Windows - Salvador Dali]
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill

13 de setembro de 2006

Renascer

Restolho
Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonho
uma alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
p'ra receber daquilo que aumenta o coração

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonho
uma alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
p'ra receber daquilo que aumenta o coração
Mafalda Veiga
Não sou, confesso, um grande apreciador da música de Mafalda Veiga. Nem sequer do seu timbre de voz. Mas tenho três ou quatro músicas que não me canso de ouvir. Esta é uma delas, não só pelo poema, mas também pela musicalidade. Tenho-a como uma das músicas, portuguesas, preferidas.
[Quanto à foto que pretende ilustrar o poema, não indiquei o seu autor por não ter conseguido confirmar a sua autoria. Do sítio onde a retirei, a legenda informava que se tratava de uma escultura de Salvador Dalí, denominada "(Re)nascimento". Fica a nota.]

12 de setembro de 2006

Femme

[Salvador Dali - Pintura de 1960]

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
(...)
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!
Claro!... Manoel Bandeira

11 de setembro de 2006

Tabacaria (excertos)

[Salvador Dali]
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(…)

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,

(...)

Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(…)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(…)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

(…)
Álvaro de Campos

7 de setembro de 2006

Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos

6 de setembro de 2006

"Walking Around"

[Salvador Dali]

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.


Pablo Neruda

5 de setembro de 2006

Guernica

[Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da República Espanhola. Medindo 350 X 782 cm, esta tela pintada a óleo representa o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por bombardeiros alemães. Actualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.]

É, talvez, a primeira obra de arte de que tenho memória conhecer, o seu nome, o seu autor e o que representa. Não a conheço pessoalmente, mas recordo-me de que me ficou marcada na memória desde o primeiro momento que a vi, e já lá vão uns anos valentes.
Quem me a apresentou foi o meu pai, lembro-me disso. Tenho pena de não recordar as circunstâncias em que tal aconteceu.

4 de setembro de 2006

[Pormenor de vitral da Matriz de Penedo, Alagoas]

30 de agosto de 2006


"Miguel acordou a pensar em Maria. Não que tivesse estado a sonhar com ela, simplesmente a sua imagem apareceu na sua mente, assim "de repente, não mais que de repente". Sorriu, como que a responder ao sorriso doce e meigo de Maria.
Soube mais tarde que nesse dia, ambos haviam acordado e a primeira coisa que se lembravam de ver foi a imagem do outro, a sorrir..."

23 de agosto de 2006

Sol de Maceió


[clique na imagem para ampliar]

"[...]

Ai que saudade do céu
do sal do sol de Maceió

[...]

Ó Maceió você roubou meu coração...

[...]"

Penedo, Alagoas (bis)

[clique na imagem para ampliar]

Penedo, Alagoas

[clique na foto para ampliar]

Pormenor da marginal de Penedo, Alagoas. Em segundo plano vê-se o Rio São Francisco.

O "Velho Chico"

[clique na imagem para ampliar]
Pescadores do Rio São Francisco e as suas embarcações típicas de vela quadrada. Também são chamadas de "Borboletas", não só pelas suas velas coloridas (sempre), mas também porque a sua mareação, muitas vezes, implica o uso de duas velas quadradas, em "V", dando a ideia de asas de borboleta.

Foz do "Velho Chico"

[clique na imagem para ampliar]

Onde as águas do Velho Chico (Rio São Francisco) se encontram com a do Oceano Atlântico. Acreditem que a luta não é assim tão desigual quanto a dimensão dos dois posssa sugerir.

Piaçabuçu, Alagoas


À saída do porto de Piaçabuçu subindo o Velho Chico (Rio São Francisco) acima até à sua foz.

Lagoa de Páu, Alagoas (bis)

[Foto tirada na praia da Lagoa de Páu]

Lagoa de Páu, Alagoas

[clique na imagem para ampliar]
Vista geral da praia da Lagoa de Páu, Alagoas.

21 de agosto de 2006

Maceió

Capital do estado brasileiro de Alagoas. Tem uma população de 903.463 habitantes (2005) e um território de aproximadamente 511 km2. Forma com outros dez municípios a Região Metropolitana de Maceió, que possui mais de 1,14 milhões de habitantes (est. 2005). Sua altitude média é de sete metros acima do nível do mar, e tem uma temperatura média de 28ºC. A cidade situa-se entre o Oceano Atlântico, que presenteia a cidade com belas praias, e a Lagoa Mundaí, que tem grande importância económica para os povoados de pescadores que vivem em sua margem.

Histórico
Seu nome tem origem num engenho das margens da lagoa Mundaú, chamado maçaio, nome este vindo do tupi "Massayó-k", ou "o que tapa o alagadiço".
Terá sido fundada em 5 de dezembro de 1815, sendo o município desmembrado do município de Alagoas (atual Marechal Deodoro), e em 29 de dezembro de 1816 ocorre a elevação da condição de povoado a vila, principalmente por causa do desenvolvimento vindo do porto de Jaraguá, um "porto natural" que facilitava o atracamento de embarcações, por onde eram exportados açúcar, fumo, coco e especiarias. Com o contínuo processo de desenvolvimento da cidade, se torna a capital da província de Alagoas em 9 de dezembro de 1839, com o simbólico ato da transferência do Tesouro da Província para Maceió.


Geografia
Há vários anos atrás formavam-se terrenos alagados, criados da vinda de sedimentos e vegetais dos rios Mundaú e Paraíba do Meio, o mar também mandou sedimentos, fechando as fozes dos respectivos rios, formando assim o que hoje conhecemos por Lagoas Mundaú e Manguaba, um dos maiores complexos estuarinos do Brasil.
Foi sobre esses alagadiços e restingas que a cidade de Maceió cresceu. Dois bairros da capital abrigam pouco menos da metade da população, são eles: Benedito Bentes e Jacintinho, ambos com 200 mil habitantes cada, o Jacintinho é um complexo de favelas, já o Benedito Bendes é um Conjunto Habitacional criado há vinte anos que, atualmente, abriga muitos outros conjuntos ao seu redor, que juntos às favelas e grotas formam o bairro. Já tramitou na Câmara Municipal de Maceió uma proposta para o desmembramento do Benedito Bentes de Maceió, transformando-o em uma nova cidade.
Segundo os próprios investidores do setor, a construção civil na capital é uma das mais bem-sucedidas do país, o número máximo de andares na parte que vai do Pontal da Barra à parte de Cruz das Almas é de oito andares na beira-mar, motivo: O Farol da Marinha do Brasil localizado no bairro do Jacintinho. É sabido que quanto menos andares um edifício tem, mais caro é o preço dos apartamentos; mas hoje a especulação imobiliária está no Litoral Norte da cidade, bairros como Riacho Doce, Guaxuma e Ipioca estão com os terrenos super-valorizados, o que preocupa tanto os moradores do local, quanto as autoridades, que vêem que lá não existe a infra-estrutura necessária para uma grande urbanização, tal como se pretende. Por isso, este local ganhou grande destaque na criação do Plano Diretor, que está tramitando na câmara municipal. Entre as principais propostas de estruturação do lugar, pretende-se: Sanear a região, para proteger os rios que a cortam; duplicar as rodovias de acesso; e é claro, o ponto mais crítico do Plano, o número de andares que cada prédio poderá ter, os construtores divergem com a prefeitura a altura máxima e afastamento mínimo dos edifícios, vale lembrar que o bem-estar físico, mental e econômico da população é o que deveria pesar.
Maceió tem, segundo pesquisas, a segunda melhor água potável do Brasil, possui clima tropical, a menor temperatura registrada na capital foi 16ºC, o sol aquece a cidade durante 270 dias do ano.

Economia
A cidade é rica em sal-gema, e tem um setor industrial diversificado (industrias químicas, açúcareiras e de álcool, de cimento e alimentícias), além da agricultura, pecuária e extração de gás natural e petróleo.
Em 2003, o PIB da capital girava em torno de 5,8 bilhões de reais, número significativo que mereceu destaque por ter vindo antes do "boom" do comércio e turismo em Maceió, que ocorreu com a abertura de diversos hipermercados, hotéis, do Centro de Convenções e do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares. A expectativa é de que os próximos números sejam ainda mais animadores.


Turismo
Outro ponto forte na economia da cidade é o turismo, pois a cidade possui um grande potencial de atrair turistas, por suas belezas naturais e grande diversidade cultural, além de oferecer várias opções de lazer e espaços modernos para negócios, tais como o novo Centro Cultural e de Exposições de Maceió, no bairro de Jaraguá. Em setembro de 2005, foi inaugurado o Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, um dos mais modernos do Brasil. O bairro de Jaraguá foi muito frequentado durante o fim dos anos 90, com grandes investimentos da prefeitura de Maceió, hoje em dia é apenas um bairro comercial.

Demografia
Desde a década de 60 Maceió vem crescendo em um ritmo acelerado, na epóca contava com cerca de 184.644 habitantes, 24 anos depois, em 1984, a cidade já tinha cerca de 399.298 habitantes, em 2000, o censo demográfico do IBGE registrou cerca de 796.842 pessoas, hoje são aproximadamente 903 mil habitantes, divididos em 511 km². A cidade tem uma densidade demográfica de 1.731,74 hab./km².

Cultura
Maceió tem uma cultura marcante, representada principalmente pelo seu rico folclore. Dentre as manifestações folclóricas há os folguedos, tais como: Caboclinho, Carvalhada, Chegança, Coco Alagoano, Festa de Reis, Guerreiro, Pastoril, Reisado, Quilombo, Zabumba, e, também, o artesanato representado pelo filé e pela cerâmica que encanta a todos por sua criatividade, originalidade e beleza.
A cidade conta com vários locais de comercialização de sua cultura e artesanato, como a Feirinha da Pajuçara, Feirinha do Mercado , este que após um incêndio em dezembro de 2005, foi transferido da Jatiuca para a Ponta Verde e agora tem um futuro incerto.
Em novembro é realizado um dos maiores carnavais fora de época do país, o Maceió Fest, que em 2005 adotou o formato Indoor, o que causou vários protestos e muita polêmica, se cogita a volta dos foliões a rua.

[Fonte: wikipédia]

Maceió a preto e branco #2

[clique na foto para ampliar]

Maceió a preto e branco #1

[clique na foto para ampliar]

20 de agosto de 2006

Francis Obikwelu e Maria João Pires, por Francis Pires

Por impossibilidade técnica que me permite fazer a ligação à página devida, deixo aqui a transcrição de um texto que achei muito bom e gostava de o partilhar. Retirei-o do blog Tapornumporco.
"Confesso que não me comovo pela razão, que afinal é minha, que tudo o que meta trapos nacionalistas, vulgo bandeiras, mais hinos e cerimónias protocolares me arrepia a pele e causa repulsa. Mas este nigeriano intriga-me. Melhor, este português de gema intriga-me e suscita-me uma profundíssima admiração. Para mim, é português quem quer. Ou devia ser. O mesmo deveria valer para as outras, todas, as nacionalidades. Ninguém deveria ser discriminado à nascença por uma casualidade que não pôde influenciar, por uma circunstância que não atenta ao mérito: o local onde se é parido. Se as históricas discriminações com base na cor da pele ou na confissão religiosa foram, e são, horrorosas, muito mais o é a segregação - mais condenação do que segregação para a maior parte das trágicas histórias do Terceiro Mundo - com base na naturalidade. É inaceitável para qualquer mente sensível. É imoral, por exemplo, que um primeiro-violino da Orquestra de Kiev ande agarrado a um martelo pneumático nas obras da construção civil, sem qualquer protecção do Estado, sem Segurança Social e sujeito aos abusos dos empreiteiros que aproveitam a mínima fragilidade alheia para facturar mais uns tostões, enquanto as nossas escolas estão infestadas de diplomados uma qualquer academia chunga a ensinar as crianças a soprar no pífaro e a cantar o solidó. E os papéis não se invertem, como deviam, por causa de um bilhetezinho, dito de identidade, que confere a um o privilégio da nacionalidade e a outro a maldição da clandestinidade!Por isso, a história de Francis Obikwelu é a mais bela e dignificante de todas as figuras públicas que enxameiam o nosso quotidiano. Numa certa medida, pelo seu passado pessoal, e dada a projecção mundial que atingiu, Obikwelu é o mais digno de todos os portugueses, isto se a dignidade resultar, como é bom que resulte, de um misto de mérito pessoal, sucesso, preserverança, trabalho, luta contra a adversidade e a injustiça, humildade e dedicação. Nenhum benefício recebeu do berço. Fosse a família ou a Pátria. Ninguém o ajudou, lutou contra todos. Teve a coragem de desertar e abdicar do país no qual não se reconhecia - a Nigéria. E fez-se ao caminho, sozinho. Humilde, empregou-se na construção civil. Uma cidadã inglesa a residir no Algarve reparou nas suas capacidades e recomendou-o a um amigo que era treinador de atletismo. A partir daí foi um galgar de degraus até ao topo do atletismo mundial onde é uma das figuras. Treina-se em Espanha, porque cá não há condições. Entretanto, no Algarve onde Obikwelu transportava baldes de massa dando serventia na construção civil, vai ganhando teias de aranha aquele que é o maior monumento à estupidez nacional: o Estádio Intermunicipal Faro-Loulé. Ou seja, para o Obikwelu correr não há pista, mas para o Farense, o Louletano, e quem sabe o Almansilense, que agonizam nas divisões secundaríssimas do futebol luso, lá está um estádio com 30 mil lugares, que só com os burros todos do país se encheria e exíguo se revelaria. Brilhante!Como é fácil de ver, Obikwelu não deve nada a este país. O país tratou-o mal, explorou-o, não lhe soube descobrir o talento. Ainda agora, o destaque que deram às suas vitórias não é de modo nenhum condizente com a dimensão dos seus feitos. Lembremos que o país delirou quando o Monteiro da Fórmula 1 subiu ao podium da mais vergonhosa corrida automobilística de que há memória. Quando todos desistiram, como forma de protesto contra o despotismo da organização, o Monteiro correu, com mais dois fura-greves e ficou em terceiro. O país foi delirou, desfraldou os trapos e cantou os hinos da praxe. Recordo também como o Pedro Lamy que uma vez, se a memória me não falha na Austrália, ganhou um pontito numa corrida, e logo o Sampaio lhe deu uma medalha. Foi o delírio. Com o Hóquei em Patins, o mais paroquiano dos desportos, cada vitrória dos moços é cantada como se fosse um feito épico. Livramento e Ramalhete são Aquiles Ajaxes na memória da imprensa especializada. E ninguém, nem Joaquim Agostinho, nem Carlos Lopes, nem Rosa Mota, nem Eusébio, nem 10 Figos, alguma vez lograram o que este digno português de nome nigeriano agora alcançou. Se Lopes e Mota têm pavilhão com o seu nome, Obikwelu, no mínimo, mereceria que o Pavilhão Atlântico fosse rebaptizado Pavilhão Obikwelu! É que ele é duplo campeão europeu dos 100 e 200 metros, uma das mais difíceis e competitivas especialidades do desporto mundial. Nos 100 metros é, aliás, bicampeão, pois que nos últimos campeonatos quem lhe ganhou foi batoteiro e o título foi-lhe retirado. Lembremos que Agostinho se encharcava em doping e tal não lhe impediu a consagração pública. Além dos feitos olímpicos que já alcançou também, Francis Obikwelu, estando ainda no activo, é já o maior desportista português de todos os tempos. Este facto parece não estar a ser devidamente salientado. O país , mais uma vez, não é justo. E, todavia, Francis insiste em correr sob as cores nacionais e a desfraldar o trapo verde-rubro após cada uma das suas retumbantes vitórias. Para mim, isto é um enigma.Entretanto, a excelentíssima senhora Maria João Pires nasceu num país, apesar de tudo, civilizado. Teve berço. Nunca foi forçada a trabalhar nas obras. Teve as condições pelo menos suficientes para se tornar uma das mais importantes e consagradas executantes musicais da actualidade. Devo dizer que tal também não me comove. Aprecio-lhe o talento como se ela fosse polaca, nigeriana ou servo-croata. É esta uma das características da actividade artística: a sua universalidade. Quando se atinge um certo patamar de qualidade e excelência, o artista e a sua arte tornam-se universais, libertam-se das circunstâncias temporal e espacial. Eternizam-se. Por isso, e por exemplo, Picasso não é espanhol, nem Rostropovich é russo, ou americano, ou israelita. É do Mundo! Por isso, em Salzburgo, por exemplo ainda, não há cerimónias protocolares de entrega de medalhas, nem hinos cantados.Por estas razões, acho irrelevante que Maria João Pires se tenha ausentado para o Brasil, para a Baía. Eduardo Prado Coelho disse que era um belo sítio para viver. Não sei se quis dizer para se «exilar», eu digo que é um belo sítio para amuar. Porque a senhora está amuada. Declarou-se zangada com Portugal, bateu com a porta e foi para o Brasil. E porquê? Porque, segundo a genial pianista, o Estado não a apoia. Ora, o Estado não só a apoia, com apoios que davam para alimentar e treinar para aí alguns mil Obikwelus, como não vê a justificação dos gastos para os apoios fornecidos. Como referiu o mesmo Eduardo Prado Coelho, nem um simples Deve / Haver rabiscado em papel de embrulho, à maneira das antigas mercearias de bairro, a senhora se dignou apresentar. Amuou, declarou-se cansada do país e debandou para o Brasil, não sem antes descansar os indígenas garantindo que o projecto de Belgais prosseguirá. Esperemos que sim e com as despesas justificadas. Se quiser continuar as sustentar-se com fundos públicos, claro. Pois passe muito bem, minha senhora, continue Vossa Excelência a ser o que é, uma das mais geniais pianistas da actualidade, que nós cá continuaremos a sobreviver, como o temos feito melhor ou pior ao longo do último milénio, quase sempre sem a presença de Vossa Senhoria. Teremos certamente o prazer de acompanhar a nossa existência futura e próxima ao som das suas magníficas interpretações que certamente a senhora não deixará de gravar para nosso (do Mundo, entenda-se) usufruto. Prometo que nas próximas Olimpíadas assistirei aos sprints de Obikwelu ao som das suas interpretações de Brahms, Debussy, Chopin ou Mozart, conforme o que Vossa Senhoria entender mais apropriado e se, por maravilhoso acaso atentar neste desabafo e se dignar adiantar uma sugestão. Como é óbvio.Para finalizar, uma perguntazinha às autoridades competentes: a senhora não é acusada porquê? Porque não vai responder a tribunal? Se fosse eu a não dar justificação a uns subsídios atribuídos no valor de uns largos milhares de contos, a coisa ficava assim? Podia ir para o Brasil descansado que ninguém me impedia?"

19 de agosto de 2006

Maceió: 18h30

[Clique na foto para ampliar]

Um momento...

[Clique na foto para ampliar]

"Mucuripe"

"[...]
As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vão levar as minhas mágoas
Prás águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar
[...]"

Composição: Belchior & Fagner


[Foto: Maceió, Alagoas]

[Para ouvir a música, clique na ligação: http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/player/frameset.php?opcao=umamusica&nomeplaylist=000415-7_13<@ ou no título]

Maceió: 5h40

[Clique na foto para ampliar]

Maceió 5h35

[Clique na foto para ampliar]

Maceió 5h30

[Clique na foto para ampliar]

18 de agosto de 2006

Narcisismo envergonhado...

"Oi, p'rá voceis..."

Posted by Picasa

O mar de Maceió

Cinzento

O Céu de Maceió

[Clique na foto para ampliar]

O céu em Maceió é qualquer coisa de, simplesmente, fantástica. Reparem nas cambiantes do azul do céu (tudo natural). Assombroso. (Deviam ser umas 15h30).

Maceió #2



Jangadas que fazem a viagem da praia até às piscinas naturais.

15 de agosto de 2006

Directamente de Maceió, Estado de Alagoas, Brasil, chegam as primeiras fotos...



Vista geral sobre a bacia de Maceió, desde Pajuçára até à ponta do Iáte Clube de Maceió, na Ponta Verde.

[Foto tirada do apartamento 602, Edifício Casa Bela, Av. Dr. Antônio Gouveia, n.º 77, Pajuçara]

27 de julho de 2006

12 de julho de 2006

9 de julho de 2006

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo"
Vinicius

5 de julho de 2006

Ainda sobre o postal anterior....


Detalhe de O nascimento de Vênus,
de William - Adolphe Bouguereau

4 de julho de 2006

Receita de mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca [inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer [beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

O eterno, Vinícius de Moraes

1 de julho de 2006

Soneto a Quatro Mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
.
Tão prodígo de amor fiquei coitado

Tão facil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
Vinicius de Moraes / Paulo Mendes Campos

29 de junho de 2006

Porque a ligação que se fazia no postal anterior para a crónica de FF, apresentava dificuldades técnicas de acesso, deixo aqui o texto integral:

«Ontem, a Lusa disse que no julgamento do processo Casa Pia foi ouvido um inspector da PJ sobre escutas a Paulo Pedroso. Diz a notícia: “Nas escutas há, designadamente, uma conversa entre Paulo Pedroso e o ex-juiz Simões de Almeida onde se refere que Carlos Cruz teria ‘comprado’ a capa da revista ‘Focus’.”
Comprado, na notícia, vem entre aspas. Na altura, eu era director da ‘Focus’. Um jornalista que se deixa comprar, com aspas ou sem, é um canalha. Um advogado pediu para eu ser ouvido, como testemunha, e eu vou a Tribunal dizer coisa simples. Ou aquela referência não existe, e quem a inventou vai levar um par de bofetadas em público. Ou existe e quem a disse (de ex-ministro a ex-juiz) vai levar um par de bofetadas. É só. É tempo de este caso começar a ter ideias simples.
»

As "bofetadas" de Ferreira Fernandes

Esta crónica, de Ferreira Ferandes, no jornal Correio da Manhã, levou a este comentário na Grande Loja do Queijo Limiano.
Republico aqui o comentário que por lá deixei:

Sou acérrimo leitor das crónicas e dos livros que, Ferreira Fernades, vai escrevendo. Sempre o tive e continuarei a ter como um dos melhores jornalistas portugueses. Sempre o admirei e admiro pela sua escrita íntegra, isenta e acima de tudo reveladora de uma grande honestidade intelectual. Nem sempre concordo com ele mas sempre respeitei a sua opinião.

Ferreira Fernades resume o que deve ser um bom jornalista. Que continue sempre assim e se para tal forem precisas bofetadas que seja.

Um Abraço!

28 de junho de 2006

"Soneto da Separação" #2

No seguimento do comentário ao post anterior deixo-vos a versão musicada pelo próprio Tom Jobim.
Poderão, assim, confirmar o que dizia Maria Miguel.
Para ouvir clique: aqui.
(NOTA: Para ouvir é necessário que tenha o bloqueador de pop-ups desactivado. Para desactivar o do internet explorer: 1. Ferramentas (tools) -> 2. bloqueador de pop-ups (pop-up blocker) -> 3. desactivar (turn off).

Mais uma vez, obrigado M...
e à Maria Miguel,
cujo aparecimento, é esperado, um dia!

27 de junho de 2006

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

26 de junho de 2006

"Os livros mudam o destino das pessoas."

«Eu não risco os livros. Faço as anotações à parte e introduzu-as nas páginas enquanto trabalho. Depois retiro-as e atiro-as para o cestos dos papeis.
(...)
Repare, não é qualquer um que escreve. Quer dizer: não o deveria fazer.
(...)
Confesso que algumas reflexões me tentaram, mas um leitor é um viajante através de uma paisabem que se foi fazendo. E é infinita. A árvore foi escrita, e a pedra, e o vento na ramaria, a saudade dessas ramagens e o amor ao qual emprestou a sua sombra. E não encontro melhor sina que percorrer, em poucas horas diárias, um tempo humano que, de outro modo, me seria alheio. Não chega uma vida para percorrê-lo. Roubo a Borges metade de uma frase: uma biblioteca é uma porta no tempo
[excerto de uma conversa entre o Autor e Delgado, no romance de Carlos María Domínguez, «A Casa de Papel»]
Obrigado M..., pelo excelente livro e por...

20 de junho de 2006

Obrigado

De um blogue chegado chega-nos uma dedicatória fantástica, à qual, não só por uma questão de cortesia, mas principamente porque verdadeiramente agradecidos e reconhecidos, não podemos deixar de agradecer e de o fazer de forma pública.
Obrigado a quem, do "tecto do mundo", nos dá o prazer da sua presença e companhia, sempre assíduas.

Ainda o Google Earth

(para aumentar, clique na imagem)

Deixo aqui mais uma fantástica imagens conseguida graças ao Google Earth.
Esta vai dedicada a Laura Tavares, a ver se consegue descobrir de que sítio se trata...

14 de junho de 2006

O fantástico "mundo" do Google Earth

Localização: 37º47'46.44'' N 25º29'37.94'' W
Para os mais distraídos: ilha de São Miguel - Açores
Altitude da vista: 54,88 Km.
(NOTA: o programa Google Earth é de partilha livre. Clique na ligação indicada para baixar o programa para o seu computador.)

6 de junho de 2006

Mia Couto

Para quem não o conhece...
Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto, nasceu a 5 de Julho de 1955 na Beira, Moçambique. Terá encontrado no seu meio familiar um ambiente cultural e intelectual favorável ao seu desenvolvimento enquanto escritor. Muito cedo, aos catorze anos, publicou os seus primeiros poemas num jornal. Profissionalmente já foi professor, jornalista e biólogo. Enquanto escritor, Mia Couto possui uma obra reconhecida internacionalmente que foi já adaptada ao cinema e ao teatro e está representada em várias antologias, tendo sido também objecto de vários estudos. A sua escrita espelha um maravilhoso universo ficcional, intensamente ligado à cultura e imaginário moçambicanos e aos mitos rurais e urbanos que, sustentados em formas de arte verbal da oralidade popular, tornam a sua escrita única e fazem deste escritor um contador de histórias único.
"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer."
Mia Couto, in Mar Me Quer, Caminho 2000

3 de junho de 2006

A pena de morte como factor dissuasor da criminalidade

(...)

"Outra explicação para a diminuição do crime é frequentemente citada a para da prisão: o aumento da aplicação da pena de morte. O número de execuções nos Estados Unidos quadruplicou entre os anos 80 e os anos 90, conduzindo muitas pessoas a concluir (...) que a pena de morte ajuda a diminuir o número de crimes."

(...)
[Porém tal não é, de todo, verdade, por duas grandes razões:]
(...)

"Em primeiro lugar, dada a pouco frequência com que as execuções são levadas a cabo neste país [Estados Unidos da América] e a enorme demora em aplicá-las realmente, nenhum criminoso razoável deveria ficar intimidado com a ameaça de execução. Embora a pena capital tenha quadruplicado no espaço de uma década, houve «apenas» 478 execuções em todo os Estados Unidos durante os anos 90. (...) O Estado de NY, por exemplo, não registou uma única execução desde que voltou a instituir a pena de morte, em 1995. Até mesmo entre os prisioneiros do corredor da morte, a taxa de execução anual é «apenas» de dois por cento - o que é muito pouco comparado com os sete por cento de probabilidade de morte enfrentada todos os anos por um membro da quadrilha negra de tráfico de droga (...). Se a vida no corredor da morte é mais segura do que a vida nas ruas, é difícil de acreditar que o medo da execução seja uma força motriz nos cálculos de um criminoso."

(...)
"A segunda falha no argumento da pena de morte é ainda mais óbvia. Pensemos por um momento que a pena de morte é um facto de dissuasão. Quantos crimes é que ela, na realidade, dissuade de praticar? O economista Isaac Ehrlich, num artigo
ciêntífico de 1975, muitas vezes citado, avança uma estimativa que é geralmente considerada optimista: a execução de um criminoso traduz-se em menos sete homicídios que o criminoso poderia ter cometido. Agora, façamos as contas. Em 1991, houve quatorze execuções nos Estados Unidos; em 2001, houve sessenta e seis. De acordo com os cálculos de Ehrlich, essas cinquenta e duas execuções a mais teriam evitado trezentos e sessenta e quatro homicídios em 2001 - um número que não é desprezível, claro, mas que representa menos de quatro por cento da diminuição real de homicídios nesse ano. Assim, mesmo na melhor das hipóteses, para um defensor da pena de morte, esta apenas poderia explicar vinte e cinco avos da queda do número de homicídios nos anos 90. E, uma vez que a pena de morte raramente é aplicada a crimes diferentes do homicídio, o seu efeito
dissuasor não pode ser tomado em consideração para o declínio dos outros crimes
violentos."
"É, pois, extremamente improvável que a pena de morte, tal como é aplicada nos Estados Unidos, exerça qualquer influência real nas taxas da criminalidade."
(...)
Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, in Freakonomics,
Editorial Presença

1 de junho de 2006

A pedido de "algumas" famílias...
Mais um post.
Não um verdadeiro post, antes uma remissão para (mais) uma discussão interessante sobre o processo penal.

27 de maio de 2006

Afinal quem nasceu primeiro foi.. o ovo!

O professor John Brookfield, especialista em genética da evolução da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, acredita ter resolvido, de uma vez por todas, um dos mais antigos e populares enigmas da humanidade: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Um filósofo e um avicultor britânicos também concordam com Brookfield. Para eles, a resposta unânime é de que o ovo veio na frente, informa nesta sexta-feira o jornal The Times.
Em resumo, o argumento é de que o material genético não se transforma durante a vida do animal. Portanto, a primeira ave que no decorrer da evolução se tornou o que hoje chamamos de galinha existiu primeiro como embrião no interior de um ovo.
Para Brookfield, a situação é clara. O organismo vivo no interior do ovo tinha o mesmo DNA que o animal no qual ele se transformaria. Assim, "
a primeira coisa viva que podemos qualificar sem medo de engano como membro dessa espécie é o primeiro ovo", argumenta.
David Papineau, um especialista em filosofia da ciência do King´s College de Londres, concorda. O primeiro frango saiu de um ovo. É um erro, segundo ele, pensar que o primeiro ovo de galinha foi um mutante produzido por pais de outra espécie.
"
Se dentro do ovo existe um frango, então é um ovo de galinha. Se um canguru pusesse um ovo, e dele saísse um avestruz, o ovo seria de avestruz e não de canguru", disse Papineau.
O jornal cita ainda Charles Bourns, granjeiro e presidente de uma entidade do setor avícola, que quis contribuir para o debate. "
Os ovos existiam antes de nascer o primeiro pintinho. Claro que talvez não se parecessem com os de hoje", disse.

10 de maio de 2006

Para descontrair um pouco...

http://www.planetdan.net/pics/misc/georgie.htm

Eu vou...

Omar Khayyam

"Todos sabem que eu nunca murmurei uma oração.
Todos sabem que nunca tentei dissimular os meus defeitos.
Ignoro se existe uma Justiça e uma Misericórdia...
Entretanto, tenho confiança, porque sempre fui sincero."


(...)

"Os nossos dias fogem tão rápidos como àgua do rio ou vento do deserto.
Entretanto, dois dias me deixam indiferentes:
O que passou e o que virá amanhã
."




in Rubaiyat
(Versão de Fernando Couto, editora Moraes)
(Omar Khayyam, poeta, matemático e astrônomo persa nascido em Nishapur por volta do ano 1044. Seu nome completo era Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam.
Ele foi famoso em vida como o matemático e astrônomo que calculou como corrigir o calendário persa. O seu calendário tinha uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos. Contribuiu em álgebra com o método para resolver equações cúbicas pela intersecção de uma parábola por um círculo, que viria a ser retomada séculos depois por Descartes.
A filosofia de Omar Khayyam era bastante diferente dos dogmas islâmicos oficiais. Concordou com a existência de Deus mas se opos à noção que cada acontecimento e fenômeno particular era o resultado de intervenção divina. Em vez disso ele apoiou a visão que leis da natureza explicam todos fenômenos particulares da vida observada.
Como poeta é conhecido pelo Rubaiyat, que ficaria famoso a partir da tradução de Edward Fitzgerald em 1839. - fonte: Wikipédia).

9 de maio de 2006

I'll Back You Up

I remember thinking
I'll go on forever only knowing
I'll see you again
But I know
The touch of you is so hard to remember
But like that touch
I know no other
And for sure we have danced
In the risk of each other
Would you like to dance
Around the world with me
I'll be falling all about my own thing
And I know your the heaviest weight
When your not here that's hung
Around my head
And your lips burn wild
Thrown from the face of a child
And in your eyes
The seeing of the greatest view
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, I'll back you up
I remember thinking
Sometimes we walk
Sometimes we run away
But I know
No matter how fast we are running
Somehow we keep
Somehow we keep up with each other
I'll be falling all about my own thing
And i know your the heaviest weight
When your not here that's hung
Around my head
And your lips burn wild
Thrown from the face of a child
And in your eyes
The seeing of the greatest view
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, I'll back you up



Dave Matthews
(Não tenho por hábito publicar textos que não sejam em português, mas a excepção trata-se de uma letra, de uma música, que acho absolutamente fantástica, do album "Remember Two Things". O artista é o indicado.)

28 de abril de 2006

A Justiça Portuguesa em 1487

SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
Apesar disso tudo,
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de Ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.o,maço 7).
Nota: o texto ora transcrito não resultou de uma pesquisa feita por mim, mas apenas de um email que me foi enviado, fica feita a ressalva.

18 de abril de 2006

A relatividade do Amor

- Amor! Por ti atravessava um oceano inteiro, só para te ver!
- Então porque não me vieste ver ontem?
- Mas como!? Não viste como chovia!?

Versos de orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
__O jardim dos meus versos todo em flor ...
A seara dos teus beijos, pão bendito ...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.
Florbela Espanca

14 de abril de 2006

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
.

12 de abril de 2006

A Volta do Malandro

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé


Chico Buarque, Ópera do Malandro

11 de abril de 2006

Remissão

Para um post, que acho que merece a pena ser lido (apesar da sua extensão).

O malandro

O malandro/Tá na greta
Na sarjeta/Do país
E quem passa/Acha graça
Na desgraça/Do infeliz
O malandro/Tá de coma
Hematoma/No nariz
E rasgando/Sua bunda
Uma funda/Cicatriz
O seu rosto/Tem mais mosca
Que a birosca/Do Mané
O malandro/É um presunto
De pé junto/E com chulé
O coitado/Foi encontrado
Mais furado/Que Jesus
E do estranho/Abdômen
Desse homem/Jorra pús
O seu peito/Putrefeito
Tá com jeito/De pirão
O seu sangue/Forma lagos
E os seus bagos/Estão no chão
O cadáver/Do indigente
É evidente/Que morreu
E no entanto/Ele se move
Como prova/O Galileu

Kurt Weill - Bertolt Brecht
versão livre de Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque

9 de abril de 2006

Ao serão

Para a serão, está reservada uma ida ao teatro, assistir à versão concerto da "Opera do Malandro" (que dispensa apresentações), que os teatros açoreanos, infelizmente, não têm dimensão para a grandiosidade da Opera completa.

Ao Jantar

Para acompanhar a estreia na feijoada de leitão, puxei de um Anta da Serra, do Redondo, de 2002 (tinto... claro).
Mostrou-se estar à altura, com a sua "cor rubi intensa, o seu aroma a frutos vermelhos com notas de baunilha e sabor encorpado e aveludado".
Só faltou, mesmo, uma bela companhia para a conversa, para ajudar na degustação.

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Chico Buarque

7 de abril de 2006

Goethe

("Noite serena" de Vincent Van Gogh)

"Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas..."
P.S.: Obrigado, M...!

O Falhado

Para saber, siga os passos abaixo:

  1. Vá ao site www.google.pt;
  2. Escreva a palavra "failure" (Falhado);
  3. Em vez de carregar em "pesquisar google", clique em "sinto-me com sorte".

Bíblico-Jurídico

«Moisés lia os mandamentos ao seu Povo:
- Nono mandamento: não desejarás a mulher do próximo.
Ouve-se então um grande clamor do Povo.
Moisés esclarece: Calma, isto é o que a Lei diz. Esperemos para ver o que diz a Jurisprudência...»

6 de abril de 2006

O Roupão

"Estávamos mesmo tão acordados que a posição deitada se tornou fatigante e acabámos por nos sentarmos, bem protegidos pelos cobertores, com os queixos enterrados entre os joelhos erguidos, como se as nossas coxas fossem botijas de calor. Sentíamo-nos perfeitamente bem ali no quente, tanto mais que lá fora, e no próprio quarto, sem aquecimento, reinava um frio cortante. A este respeito acrescento que para se gozar plenamente o calor é indispensável ter uma parte do corpo exposta ao frio; porque neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe. Se uma pessoa se vangloria de um conforto pleno e perene, isto é o mesmo que afirmar que não se encontra mais em condições de avaliar o que é o conforto. Mas se, à semelhança de Queequeg e de mim próprio, uma pessoa se encontra na cama com a ponta do nariz e o alto da cabeça ligeiramente friorentos, então, na verdade, essa pessoa pode afirmar com toda a consciência que sente o mais delicioso e inequívoco calor. Por este motivo um quarto com cama nunca devia dispor de aquecimento, que é um dos luxuosos desconfortos dos ricos. Porque a suprema delícia é não ter, entre o nosso corpo e o frio exterior, outra coisa além dos cobertores. Então podemos dizer que somos uma fonte de calor incrustada no cerne de um cristal do Ártico."

Ismael (Herman Melville), Moby Dick

5 de abril de 2006

"(...) neste mundo a única medida de valores é a que resulta do contraste. Em si, nada existe."

Ismael

2 de abril de 2006

A Coxa

"Passou por mim uma coxa...
Tinha, coitada, uma perna menor que a outra
E pareceu-me ler-lhe nos lábios, nas roupas, no olhar,
O esforço desmedido de quem luta pelo impossível equilíbrio.
Todos corriam, atarefados, em todas as direcções,
Tensos com a vida, decididos, derrotados.
Alguns carregavam pesadíssimos sacos de compras
E planeavam mentalmente o jantar para a família.
Um par de namorados argumentava, cerradamente, sobre coisas sérias,
Toldavam-se, contidamente, em gestos, palavras e expressões.
A coxa parara junto a uma montra de revistas...
Descansava.
Então, um rapaz segurou-a por trás, pela cintura,
Beijou-a e pronunciou um "
meu amor" seguro.
A lágrima contida já se soltara do olhar dos namorados...
Colando mais um cigarro incandescente aos meus lábios enxutos,
Fiquei quieto, muito quieto, a pensar...
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
"
Claro... Manoel Bandeira